O presente trabalho refere-se ao módulo Teorias da Comunicação, do curso de especialização Cultura e meios de comunicação: Uma abordagem teórico-prática, realizado no SEPAC no mês de julho de 2009. Tem por objetivo manifestar, numa síntese, parte do processo de aprendizagem e de busca de aprofundamento naquilo que se estudou no período.
Para tanto, conforme orientação, toma-se como base à primeira parte desse trabalho o livro Teorias da comunicação: da fala a internet, do professor Roberto Elísio dos Santos, do qual se apresentará uma síntese. A segunda parte procura estabelecer uma relação direta entre aquilo que o livro apresenta com o conteúdo das diversas aulas ministradas no decorrer do curso, inclusive no que se refere ao laboratório.
Quanto à síntese do livro, dar-se-á a partir da estrutura elaborada pelo próprio autor. Abordando de início o fenômeno da comunicação, seu desenvolvimento desde a descoberta e organização dos sons como sinais, até o seu alto desenvolvimento na era tecnológica, através dos diversos recursos usados para propagá-la. Pretende-se, no entanto, não abordá-la apenas por assim o fazer, como mera narrativa, mas analisá-la em seu conjunto. A parte dois do livro relaciona e expõe diversos momentos de interpretação e estudo do fenômeno da comunicação, colocado a partir das diversas escolas a ela ligadas. O que também será aqui abordado e refletido.
Já para o segundo momento do trabalho, objetiva-se colocar pontos da exposição dos professores diante do que é trabalhado no livro, assim como levantar colocações de outros autores da área e, ora usá-los para afirmar, ora para questionar o autor, no intuito de perceber, através de um diálogo de ideias, as possibilidades diante da questão da comunicação, das diversas formas como ela é colocada.
O que aqui será colocado a critério de considerações finais, são, de fato, considerações. Trazem muito mais impressões que certezas. Porém, nelas serão pontuadas observações de cunho pessoal, da forma como o fenômeno, o estudo e a aplicação da comunicação parecem soar na sociedade hoje e como isso tem influenciado na formação da consciência pessoal, político e social das pessoas.
Assim, o trabalho que segue é fruto de observações, anotações, leitura, reflexão, questionamentos e, por último, de aprendizado real, sendo também ele material para tal conquista. Apresenta-se, então, um esboço organizado daquilo que marcou o primeiro módulo, seja na sala de aulas, seja em sua extensão nos estudos posteriores.
Capítulo I
AS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: DA FALA À INTERNET
Em seu conjunto, o livro apresenta o fenômeno da comunicação dentro de vários aspectos que o marca. O autor estabelece um percurso da história humana, sequenciando o homem que progride na ânsia de se comunicar melhor, organizando-se e tornando seu ato comunicativo mais eficiente.
Sua linguagem simples faz daquilo que é uma pesquisa científica um bom método de estudo e um impactante convite à reflexão acerca desse fenômeno, inclusive pode-se afirmar que o conteúdo em si, já traz boas pistas para uma reflexão, já que o autor mesmo a faz em diversos momentos.
Na introdução à obra, Santos (2003) ressalta a amplitude da comunicação, não a restringindo apenas à troca de informações. Com isso delineia todo o processo comunicacional, desde a criação de sinais e meios até a sua aceitação e incorporação cultural. Além da observação dos interesses a que esse processo serve e da percepção das ideologias nele inseridas, nota-se ainda o feito social que realiza, através das relações horizontais, no nível interpessoal e também das verticais, vindas dos meios de comunicação de massa, das infomídias e, em geral, dos meios frutos do avanço tecnológico.
Evidentemente sobre algo de tamanha intensidade não faltam reflexões e estudos. Muitos são os nomes e grupos de sociólogos, filósofos e pesquisadores de diversas áreas que se enveredaram por esse caminho e chegaram a constatações diversas acerca desse fenômeno, tendo cada um algo a apresentar que ajude a compreendê-lo.
1.1 – Os fenômenos da comunicação
Sendo o ato comunicacional “uma forma de recreação de uma dada realidade captada por aqueles que se comunicam a partir de seus próprios conceitos e preconceitos” (SANTOS, 2003), faz-se necessário à sua compreensão o conhecimento de seu processo evolutivo, de como e por que razão tal processo se desenvolveu nos diferentes grupos e meios.
Segundo o autor a Idade da Fala e da Linguagem iniciou-se a mais ou menos cinquenta e cinco mil anos, através do controle do aparelho fonador humano colocado na emissão de sons organizados. Depois as convenções de símbolos e sinais, como as pinturas rupestres, começaram a alimentar o que, por volta de cinco mil anos atrás, seria a Era da Escrita, iniciada pelos chineses, maias, sumérios e egípcios. Mais tarde os sumérios também organizariam o sistema fonético e foi só por volta de 700 a.C. que, na Europa Central, se iniciou a escrita alfabética.
O ato comunicacional já desde o seu desenvolvimento veio se colocando sob as formas verbal e não verbal e orientando-se a partir da finalidade, podendo ser subjetiva, interpessoal ou massiva, estando sempre presentes os interlocutores, a mensagem, os meios e o contexto.
A eficácia da troca de informações depende da reciprocidade de conhecimento dos sinais pelas partes envolvidas. A linguagem, na sua organização dos códigos e seu conjunto de signos comuns a um dado grupo, responde a isso. Tais signos são constituídos pelo objeto representado (referente), sua representação, ou seja, o significante, por meio da fala, escrita, gestos ou imagem (nesse caso diz-se ícone) e pelo significado que lhe é dado de modo aleatório. Relacionam-se ainda os símbolos, que representam ideias, noções abstratas. A compreensão final do signo ainda depende de seu sentido ser denotativo ou conotativo. No primeiro, compreende-se tal como ele é, já no segundo, novos significados podem ser associados.
O autor atribui ao filósofo suíço Saussure o surgimento da linguística moderna, para quem a língua é um conjunto de signos, utilizados e transformados pela fala. No entanto, foi o cientista inglês Pierce que desenvolveu a semiótica, ou ciência dos signos, com função de classificar e descrever os signos, não importando tanto seu significado, mas sim a interpretação que deles se podem fazer.
A linguagem exerce importante papel na comunicação humana. Transmitem, além da mensagem, muitas características do emissor, do receptor e dela própria. Apresenta-se carregada de ideologias e, muitas vezes, é usada na tentativa de convencimento, que os gregos já chamavam de retórica. Na análise disso, a linguística, a semiologia e a semiótica são importantes, principalmente no estudo do conteúdo das mensagens transmitidas.
Contudo, a linguagem não verbal, ou paralinguística, também se torna alvo de estudos na cinésica e na proxêmica, perante o seu papel no ato comunicacional. Referem-se tanto aos gestos, as posições e movimentos corporais como ao tom de voz. Esses recursos estão condicionados a fatores biofísicos e psicológicos (sexo ou idade), ambientais, sociais, educacionais, culturais e podem afirmar ou até repetir a informação, como podem também contradizê-la, exigindo, assim, domínio do emissor não apenas do modo como se expõe, mas também da forma como seus interlocutores a receberão.
A comunicação pictórica, ou seja, o uso de representações figuradas e relacionadas com o objeto representado, de longe se faz presente no desenvolvimento da comunicação. Desde as pinturas nas cavernas até os recursos da computação gráfica as sociedades usaram da imagem para transmitir mensagens e cultura. Estão presentes nas figuras ilustrativas, na televisão, nas telas, nas ruas e muitas vezes carregam símbolos e ideologias que, embora comuns, remetem a significados diversos. Da imagem, estudos já levantaram muitos componentes, como a presença do ponto, linha, tom, forma e cor, sua estaticidade e dinamicidade e as variações de imagem, que podem ser pura, imagem de imagens, imagem de não imagens e não imagem de imagens.
Vistas essas diversas formas presentes na comunicação incessante do homem, é notória também a presença dos meios massivos de produção e veiculação de comunicação de cultura, informação e lazer. Visam lucro e para isso precisam prender a atenção dos receptores, que buscam nesses meios as mais diversas informações.
Tais meios iniciaram-se no ocidente com a invenção da imprensa de Gutenberg no século XV, possibilitando a impressão de livros, como a bíblia em alemão de Lutero e dos jornais. No sec. XIX a invenção do telégrafo, telefone, fotografia, cinema, gramofone e do rádio marcaram também esse avanço dos meios. A televisão surgiu no século XX, conjugando elementos de vários outros meios, tornando-se então a síntese deles e é ainda hoje um dos meios mais comuns e importantes de comunicação de massa.
As transformações trazidas pela tecnologia foram fazendo a comunicação cada vez mais rápida e eficiente. As mídias digitais intensificaram as trocas de informações entre pessoas, empresas e países. “Hoje, as mensagens são veiculadas em maior quantidade, com mais rapidez e contemplam parcelas cada vez mais amplas de receptores” (Santos, 2003); esse processo rompe as fronteiras e mundializa a comunicação e consequentemente a cultura própria de algum povo. No entanto, a possibilidade destas mesmas mídias em dimensão local valoriza a cultura regional e a identidade específica desse grupo. Mesmo assim essas mídias são necessárias a sociedade, na medida em que esta carece de informações e as quer em quantidade e velocidade satisfatórias, independendo dos danos que possam causar.
Dessa industrialização da cultura originou uma série de pensamentos que zelavam pela tradição cultural e apontavam nos meios massivos defeitos e ameaças, principalmente pela ideologia dominante no sistema capitalista imposta através de sua verticalidade. Outros a viam como a democratização da cultura, sendo possibilidades de acesso a informações e bens culturais diversos. Surge aí a teoria da informação, objetivando conhecer e otimizar o custo do processo comunicacional.
1.2 – As escolas teóricas
No desenvolvimento das ciências sociais, vários cientistas sociais se voltaram para a questão da comunicação, observando-a a partir de seu impacto cultural e de seu uso na integração social. Tais estudos, surgidos na Europa, eram de ordem positivista ou marxista, procurando explicar tudo à luz da ciência ou pretendendo mudar a estrutura de classes, respectivamente.
No início do século XX, surge a teoria funcionalista a partir dos teóricos da Escola de Chicago. Pelo paradigma de Lasswell, alguns dos teóricos funcionalistas explicam o processo da comunicação que engloba emissor, mensagem, meio, receptor e o seu fim. Justificam ainda a influência exercida pelo meio sobre a sociedade, além da sua função na manutenção da ordem social. Porém, outros afirmam que tal paradigma justifica o uso autoritário dos meios. Propõem então o paradigma de Lazarsfeld, que estuda o processo a partir de seu contexto.
Opostos aos funcionalistas colocam-se os frankfurtianos, principalmente Horkheimer, Adorno, Benjamim e Marcuse. Os dois primeiros numa crítica à produção cultural padronizada e em série cunham o termo indústria cultural, designando a maneira de apropriação da cultura pelo capitalismo. Benjamim considerava que a aura, ou seja, a legitimidade da obra se perderia ao ser reproduzida. Marcuse afirmava que o ser humano tendia a unidimensionalidade, a partir da supressão do princípio do prazer. Mais tarde, Habermas formulou a teoria da competência comunicativa, em que o tecnicismo faz público aquilo que era privado.
Em oposição tanto aos funcionalistas como aos frankfurtianos estão os teóricos da Escola Sociológica Europeia, como Roland Barthes, Edgar Morin, Jean Baudrillard, Julia Kristeva, Christian Metz, Umberto Eco, entre outros. Eco pensava que a fenômeno da comunicação é legítimo, pertencente a um momento histórico e sua análise deve levar em conta a linguagem usada, a recepção e o contexto cultural. Para Morin, a cultura de massa tem caráter universal, devendo ser olhada a partir da totalidade e da autocrítica. Relacionam-se ainda Saussure e a semiologia, além de Levi-Strauss e o estruturalismo.
Marshall McLuhan dedicou-se ao estudo dos meios, tendo alguns pensamentos e conceitos próprios, alguns contestados por outros teóricos. Segundo ele, os meios são extensões dos sentidos humanos e têm sua eficiência tanto melhor, quanto maior forem os sentidos usados, sendo a fala a mais eficaz. O conceito Galáxia de Gutenberg refere-se ao fenômeno de que a partir da imprensa o homem fixou-se no uso da visão. Aldeia global, outro conceito de McLuhan, é o mundo. Nele, “a mesma experiência comunicativa é compartilhada por diferentes culturas” (Santos 2003), são milhões de pessoas compartilhando a mesma experiência.
Outros pontos de vista foram colocados pela chamada Nova Esquerda, principalmente pelo filósofo alemão Enzensberger. Para ele os meios podem agir na consciência da massa, mobilizando-a a algum fim, o que ele chama de indústria da consciência. Já o filósofo francês Althusser trata dos aparelhos ideológicos, principalmente o do estado, que reforçam a produção das ideologias veiculadas.
A partir dos anos 1970, em decorrência de fatores políticos, sociais e econômicos, a sociedade configura-se ao pós-moderno. As implicações culturais dessa mudança de padrões foram estudadas pelos teóricos da Escola Progressista-Evolucionista. Para eles a cultura se democratiza pela educação, o que vinha acontecendo devido à emergência da sociedade intelectualizada. A isso, Alvin Toffler chamou de terceira onda, que caracteriza, pela interação das partes, a desmassificação dos meios de comunicação de massa.
Nessa sociedade pós-moderna, principalmente nos países desenvolvidos, o tempo real e a semelhança à vida real são marcantes na comunicação. Esta se caracteriza pela utilização de recursos de alta tecnologia, assim como pela alta velocidade na transmissão das informações e ainda pelo consumismo e hedonismo. As ideologias estão intrínsecas, mas revelam um grande vazio de conhecimentos passados. No entanto, isso ainda é bastante informe nos países subdesenvolvidos, nos quais muitas vezes o fenômeno não é estudado.
No caso da América Latina, o estudo do fenômeno da comunicação apareceu a partir da década de 1950 numa perspectiva funcionalista. O Ciespal (Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para a América Latina) foi criado em 1959 e seus estudos visavam a melhoria das condições de vida do povo e depois a comunicação popular. Depois de 1970, alguns teóricos de esquerda (muitos membros do Ceren – Centro de Estudos da Realidade Nacional) começaram a observar as ideologias, a partir dos conceitos imperialismo cultural (imposição dos países ricos de produtos culturais) e hegemonia.
Na década de 1980, a tentativa de democratizar a informação e dialogizar o processo repercutiu na criação dos meios alternativos que veiculavam na “contramão” a cultura popular. Os Estudos Culturais ingleses foram retomados nas décadas de 1980 e 1990 por Martin-Barbero e Garcia Cancline. Para o primeiro, os meios homogeneízam os comportamentos e afastam as pessoas das ruas, isolando-as em casa e criam nos meios de comunicação sua identidade. Já para o segundo, os meios criam culturas híbridas (populares, massivas e de consumo), como é o hip-hop.
Capítulo II
TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: RELAÇÃO LIVRO – SALA DE AULA
Em artigo publicado na Folha de São Paulo, Emílio Odebrecht, citado pelo professor Mauro Wilton , considera a definição mais agradável de comunicação aquela que a concebe como processo de influenciar e ser influenciado na busca do que é certo. Afirmando Santos (2003) quando diz que se peca ao concebê-la apenas como processo de transmissão de informações, uma vez que abrange toda uma sistematização de relações. Isso se evidencia nas palavras do próprio professor: “Comunicação é fruto de uma alteridade entre o ‘eu’ e o ‘outro’”.
Os limites e possibilidades abordados por Mauro Wilton expuseram a linearidade temporal em que a comunicação se dá, principalmente nas mudanças de época e nas formas características de cada momento histórico. Contextualizando o processo comunicativo desde a presença do ato comunicacional no ser humano como necessidade vital, seu desenvolvimento anatômico e biológico, até o momento em que esse processo começa ser objeto de estudos e, não só isso, a forma como esses estudos se inserem no campo acadêmico e social, desenvolvendo as diversas teorias, que partem do impacto que a comunicação causa na sociedade.
A teoria funcionalista, também abordada pelo professor Mauro Wilton, parte da noção de função. Mattelart e Mattelart (2000) desenvolvem esse assunto a partir da pergunta: “Quem diz o quê por que canal e com que efeito?”. Em Sousa (2003), a função relaciona-se à atuação de uma determinada instituição na sociedade e sua importância na manutenção dela. A “agulha hipodérmica” relaciona a emissão à recepção no uso dos meios para o fim, que é a resposta ao estímulo provocado com meios persuasivos, mesmo que para isso o indivíduo se dilua no grupo que media sua identidade. A mídia é, no final, a gratificação à sociedade por aquilo que ela espera. Sendo, portanto, o modo de compreender a comunicação no seu processo de consumo.
A professora Sílvia Borelli , em aula sobre os frankfurtianos, estabeleceu um paralelo entre funcionalismo e teoria crítica semelhante ao feito por Santos (2003). Para ambos, embora o Instituto para a pesquisa social tenha sido fundado em 1923, na cidade alemã Frankfurt, a teoria crítica só se desenvolveu como tal a partir do contato dos teóricos dessa escola com a sociedade de massa (funcionalista) nos Estados Unidos. A vulgarização da arte e da cultura pela produção em série evidencia a oposição entre razão e intuição, a arte se distancia do seu autor e, assim, distorce a realidade que lhe é própria.
Apesar de Santos (2003) os ter generalizado como marxistas, é conveniente, como lembrou professora Sílvia, perguntar: de que marxismo se está falando? Para os críticos dessa escola, diferentemente de Marx que fala em classe dominante, há ideologias de classe. Essas produzem e impõem-se sobre os receptores do processo funcionalista. A questão da indústria cultural firma-se nesse aspecto, para Adorno, um dos críticos principais, ideologia é o processo responsável pela própria consciência social, portanto, não é produto.
Nota-se que tanto o funcionalismo quanto a teoria crítica constatam a industrialização da cultura criada pelos meios de comunicação. A divergência existencial está no que Polistichuk e Trinta (2003) chamam de proposição metafísica presente nos frankfurtianos que pretendiam transcender, pela filosofia, a pesquisa sociológica, enquanto os funcionalistas mantêm-se firmes na continuidade do sistema.
Embora Santos (2003) o tenha citado entre membros da Escola Sociológica Alemã, sem dar-lhe muito espaço, Sílvia Borelli dedicou uma manhã a Edgar Morin, explorando a questão da imagem e do imaginário que, estando muito além da mera representação de figuras e símbolos, sintetiza a comunicação humana que se realiza com o “duplo”. Para Morin, as dimensões real e imaginária estão muito próximas, sendo às vezes o imaginário mais real que o real.
Ir. Joana Puntel , abordando McLuhan, expôs a afirmação desse pensador sobre os meios. Segundo Polistichuk e Trinta (2003), a tese central de McLuhan é o determinismo tecnológico, ou seja, vê os meios de comunicação como um sistema complexo que envolve sujeitos, instrumentos, organizações e articulações de mídia que opera em todos os níveis da organização social, sobre a qual, instituindo novos hábitos de percepção, contribui decisivamente para uma nova configuração. No entanto, segundo Ir. Joana, esta é também uma das ideias de McLuhan mais criticadas, pois diante dessa supervalorização dos meios há praticamente a anulação das pessoas, como se apresentou no filme Simone em que um computador produz uma personagem fictícia de cinema.
Os Cultural Studies, na Inglaterra, abordados por Sílvia Borelli e os estudos culturais na América latina, trabalhados com o professor Mauro Wilton, foram superficialmente mencionados na obra base deste trabalho. Na sala de aula, porém, foram bem discutidos. A professora Sílvia explicitou a importância desses estudos no conhecimento da relação entre cultura e comunicação, principalmente a partir de Richard Hoggart que cria o Centre for Contemporany Cultural Studies que, segundo Escosteguy (2001) , dedica-se ao estudo das relações entre a cultura contemporânea e a sociedade. Usou ainda do pensamento de Raymond Willians, também membro do CCCS, que, de acordo com Escosteguy (2001), constrói um histórico do conceito de cultura, culminando na ideia de que a cultura comum pode ser vista como um modo de vida em condições de igualdade de existência com o mundo das artes, literatura e música, o que Sílvia exemplificou com o projeto de universidade aberta e alfabetização de adultos, por eles idealizado, bastante diferentes dos projetos assim nomeados no Brasil.
A professora Sílvia faz questão de enfatizar o ângulo do qual se pode compreender o marxismo presente nos Cultural Studies. Segundo ela, enquanto no marxismo original se fala da superioridade da infraestrutura sobre a superestrutura, colocando as materialidades econômicas acima da cultura, nos Cultural Studies o processo se inverte, através de um deslocamento de eixo. O que Gramsci chamou de hegemonia, ou seja, a prevalência de algo sobre o outro, processo de negociação do poder. Outro nome de referência é Stuart Hall, que substituiu Hoggart na direção dos estudos, incentivando várias linhas de pesquisa e projetos coletivos.
Sobre os estudos culturais na América Latina, como já citado, Professor Mauro reforçou motivos pelos quais Barbero considera que o indivíduo crie sua identidade pelos meios de comunicação, a partir de sua inserção no processo emissão-mediação-recepção. Tais razões partem das ideologias transmitidas que levam tanto à crise da solidez, referindo-se à Bauman, para quem todas as relações se liquefazem, quanto à busca pela subjetividade através de uma experiência singular de vida.
A questão não só da semiótica, mas também da semiologia, apresentou-se várias vezes na obra de Santos (2003). No SEPAC, a semiótica, mais especificamente, foi com toda a sua complexidade exposta pela professora Irene Machado , que quis já de início abordar as diferenças entre os dois termos acima citados. Embora se refiram a teoria geral dos signos, Saussure considera a semiologia uma disciplina de estudo da vida dos signos, enquanto Peirce considera a semiótica a ciência geral dos signos em suas relações lógicas. A faixa de estudo da semiótica, professora Irene definiu assim: “Toda e qualquer coisa que organize ou tenda organizar-se sob a forma de uma linguagem, verbal ou não, é objeto de estudo da semiótica”. A afirmação de Santos (2003) de que linguística, semiologia e semiótica são instrumentos valiosos para o estudo da comunicação, principalmente para a análise do conteúdo das mensagens presentes nos meios massivos, parece bastante pertinente, já que, segundo a professora, a linguagem dos meios é decifrada pelos códigos apresentados.
Ligado ao que o autor da obra base deste trabalho chamou comunicação e pós-modernidade, a aula Pós-modernidade e as novas racionalidades técnicas, com a professora Rose Rocha , somou elementos norteadores para a concepção desse processo comunicacional inserido na sociedade pós-moderna, a partir das mudanças de paradigmas estruturais. Segundo ela, o que se chama pós-modernidade é a resposta ao diagnóstico do mal estar da sociedade, que sofre da doença da impermanência, na qual muito se pensa e pouco se faz realmente, até mesmo em decorrência da dinamicidade do tempo e do espaço. A emergência do individualismo e dele, com a revolução tecnocientífica e microeletrônica, emerge a possibilidade de se comunicar cada vez mais à distância, sem a presença do outro. A pós-modernidade, sendo a era dos paradoxos e da velocidade, põe em dúvida a realidade das coisas, dando asas ao imaginário. Nela, pergunta-se pelo sujeito e por seu papel na construção da sociedade.
Numa observação mais de cunho eclesiológico, mas de profunda importância até mesmo por considerar a evolução da Igreja junto ao processo da comunicação, desenvolveu-se a aula de Ir. Joana Puntel, na qual desenvolveu a partir dos documentos da Igreja um percurso trilhado por ela, não só na visão do processo, mas também na orientação para a sua realização. Ir. Joana chamou a atenção para o diálogo entre fé e cultura em vista de uma evangelização dinâmica, justificando assim a passagem da comunicação eclesial junto aos momentos teóricos e históricos da comunicação social. Tal processo, com louvor, culmina no documento de Aparecida que diz: “Têm-se desenvolvido a pastoral da comunicação social, e mais do que nunca a Igreja tem contado com os meios de comunicação para a evangelização da cultura” . Além disso, a afirmação do Papa Bento XVI na carta encíclica Caritas in Veritate, sobre a necessidade de comprometimento dos meios com a verdade, o bem e a fraternidade em vista da promoção da dignidade humana representa a caminhada progressiva que faz a Igreja no rumo de uma pastoral transformadora em oposição àquela pastoral que o próprio Documento de Aparecida chama de pastoral de manutenção.
Quanto à prática laboratorial de rádio, com o professor Anderson Zotesso, numa análise das diversas teorias que sustentaram e, de algum modo, permitem compreender o processo da comunicação, há como pontuar elementos de várias delas, presentes na produção radiofônica.
O efeito massivo do rádio através da reprodução mecânica de músicas e programas depositados nos ouvintes tem carga funcionalista e por vezes parece suscetível à crítica dos frankfurtianos. Olhado a partir da teoria de Umberto Eco, da Escola Sociológica Alemã, o rádio, embora massivo, cede lugar preferencial à mensagem que transmite, essa pode ser conhecida a partir da sua análise estrutural, observação da relação entre seus elementos constituintes na geração do significado, assim, o meio mesmo que massivo pode ser informativo e educativo.
No entanto, se olhado sob a perspectiva de McLuhan, o rádio, como os outros meios, pode supervalorizar o meio e a mensagem tornar-se intrínseca. Ainda pensando com McLuham o uso do rádio como extensão da fala humana ajuda a maximizar o processo. O rádio ainda pode se inserir na ideia de aldeia global, promovendo a criação de tribos de escala planetária.
Além dessas, o rádio é capaz de traduzir-se em muitos pensamentos e análises, no entanto, o que parece importante é conhecer o papel do rádio na sociedade contemporânea e o papel do comunicador radiofônico na interação com a sua recepção através do meio de que usa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parafraseando Emílio Odebrecht, talvez seja conveniente dizer que o processo de comunicação se aprimora no conhecimento da influência sofrida e exercida em vista de acertar. Nos primeiros passos da comunicação interpessoal, parece-me que mais importante que se expressar, seja pela fala ainda precária, nos primeiros balbucios, seja pelos gestos sinalizadores, era entender e ser entendido, de modo que houvesse uma clareza no processo.
Da mesma forma que tomando consciência de seu existir no mundo o homem começou a refletir sobre tal aspecto, a sua evolução ao longo de todo esse tempo possibilitou-o, então, não somente a capacidade de expressão, mas principalmente a profunda reflexão que culminou também na tomada de consciência de que seu potencial comunicador era de fundamental importância na construção histórica da sociedade.
Sociedade essa, marcada por momentos de paradigmas de relações diversos. O dado da relação, que embora romantizante apresenta-se também como o desafio da interpessoalidade, aparece como a peça fundamental para a busca humana de conhecer-se enquanto ser de relações. Tomadas sob diversos ângulos, essas relações servem de base ao desenvolvimento das várias teorias da comunicação que são o processo e o produto dessas reflexões sócio-culturais.
A questão cultural, entendida a cultura como toda a produção humana para a satisfação de suas necessidades com capacidade de alavancar o homem no fluxo histórico, é, ao mesmo tempo, causa e efeito dentro do conjunto de relações. Se por um lado, esse até mais amplo, a cultura é o que movimenta a comunicação, que lhe dá sentido, por outro é ela produto dessa comunicação, uma vez que no desenrolar do processo, seu potencial dinâmico permite que sofra mutações e se adapte à realidade, ou até mesmo, crie novas realidades.
Essa temática da comunicação, compreendida dentro da relação cultura e sociedade, perpassa toda a questão presente no livro base, no sentido da observação de como o processo se dá. Aquilo que é de cunho biológico, como o desenvolvimento anatômico dos órgãos para a fala, soma-se ao que é de cunho intelectual, como a invenção e a convenção acerca da escrita, além daquilo que se foi refletindo ao longo de todo esse processo e dessa consciência acerca da origem, da importância e das consequências de tal processo na vida da sociedade.
Com efeito, como várias vezes disse professor Mauro Wilton, não há ideologia nua. A repercussão do processo comunicativo, principalmente a partir da massificação da comunicação e da globalização da cultura, está ligada às várias ideologias que se pretende propagar, de forma que se crie uma sociedade homogeneizada cada vez mais dependente e inconsciente do que há por trás de todo o sistema.
Esta é a era pós-moderna, nela as relações são bastante indefinidas, as identidades oscilam entre polos opostos e as informações chegam a tempo real às casas de onde as pessoas relacionam, mesmo sem ter contato, com a sociedade. Nesse protótipo de sociedade o real e o fictício fundem-se em padrões de aceitação, pelos quais os valores morais e éticos ora se disseminam, ora são denegridos, as famílias se amoldam àquelas que lhes são dadas como exemplo e a educação se sujeita àquilo que os detentores dos meios a permitem oferecer.
Embora os momentos se superem, muitas de suas características perduram ao longo do tempo. Mesmo na pós-modernidade estão presentes ideais funcionalistas que ainda criticamos com olhares frankfurtianos e que tanto como os primeiros, às vezes estamos a serviço da reprodução do sistema, quanto como os segundos, mantemos uma postura crítica e uma alternativa utópica de mudança. O caso é que apesar disso, a cultura continua matéria de indústria e seu sentido artístico primeiro se perde na falta de originalidade com o qual ela se reproduz.
A emergência da cultura pop é um sinal de que mesmo em meio a essa massificação presente na comunicação, embora o pop também use desses meios massivos, ainda pode haver medidas alternativas em que as pessoas das pequenas comunidades possam vivenciar e de algum modo difundir traços culturais que lhe sejam próprios.
Contudo, nota-se que hoje a sociedade é totalmente dependente dos sistemas de informação. Além das mídias tradicionais, as infomídias, principalmente a internet, assumem um papel imprescindível na manutenção da sociedade. Constatar isso pode não significar muito se não nos questionarmos quanto à necessidade de se criar uma consciência crítica acerca dessas mídias. É conveniente que nos perguntemos como nos inserimos nesse sistema e o quanto ele é capaz de nos envolver e de direcionar nossas ações e reflexões, ou pior, se ele é capaz de suprimir nossas reflexões e levar-nos a vivência de um conformismo.
Nisso os diversos pensadores citados no trabalho colaboraram. Inspirados na presença dos meios de comunicação e sua forma de atuação no tempo em que viveram, os pensadores ou escolas reproduziram da forma mais original possível a estrutura interna e a repercussão social da comunicação e da cultura, preocupando-se com a forma como a sociedade a enfrentaria e aceitaria no dia-a-dia.
Por fim, prevalece a ideia de que é importante conhecer o sistema em seu conjunto, não basta aceitar passivamente a forma como ele se impõe, mas é necessário que mesmo não podendo mudá-lo, com ele se aprenda a discernir e, assim conscientemente, escolher.
Cláudio Geraldo da Silva
Trabalho apresentado à PUC-SP/ SEPAC.
REFERÊNCIAS
BENTO XVI. Caritas in Veritate: Sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade. São Paulo: Paulinas, 2009 (coleção A Voz do Papa).
Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. 5. ed. Brasília: Edições CNBB, 2005.
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Os estudos culturais. In: HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da comunicação: Conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001.
MATTELART, Armand e Michèle. História das teorias da comunicação. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
POLISTCHUK, Ilana; TRINTA, Aluizio Ramos. Teorias da comunicação: O pensamento e a prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
SANTOS, Roberto Elísio dos. As teorias da comunicação: da fala a internet. São Paulo: Paulinas, 2003 (Coleção Comunicação-estudos)