quinta-feira, 17 de junho de 2010

A fundamentação da existência de Deus, em São Tomás de Aquino


A fundamentação da existência de Deus em São Tomás de Aquino contida na Suma Teológica dá-se a partir de cinco vias essenciais que, metafisicamente, remetem a Deus partindo de dados sensíveis.
Filosoficamente, as cinco vias estão relacionadas à filosofia aristotélica, mas trazem uma determinante presença tomística, não só pela reinterpretação, como também pela aplicação diferenciada a ela dada.
A rigor metodológico, enumeram-se da primeira a quinta via, trazendo inicialmente sua descrição a caráter de título, seguida de fragmentos ordenados da questão segunda da Suma Teológica que as justifiquem e, por fim, um breve comentário a cerca de cada uma delas.
1ª via: Procedente do movimento – do movimento das coisas ao motor imóvel:
Ora, todo o movido por outro o é... se, portanto, o motor também se move, é necessário, seja movido por outro, e este por outro... Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus (AQUINO, 1980 p. 18-19).

É a que o próprio Tomás considera mais manifesta e evidente. Partindo da observação de que todas as coisas que se movem, movem-se por outras, a necessidade de um primeiro motor, imóvel, apresenta-se, Tomás o atribui a Deus. É ele que dá movimento a todas as coisas.
2ª via: Procedente da natureza da causa eficiente – das causas segundas à causa primeira:
Pois descobrimos que há certa ordem das causas eficientes nos seres sensíveis... nem é possível que uma coisa seja eficiente de si própria, pois seria anterior a si mesma... é impossível, nas causas eficientes, proceder até o infinito... Logo é necessário admitir uma causa primeira eficiente, à qual todos dão o nome de Deus (AQUINO, 1980 p. 19).
.

Tomás observa que as coisas não têm suas causas em si mesmas, são sempre geradas consecutivamente, assim são causadas por um fator exterior a elas. Essa causa primeira,que cria e possibilita a razão das demais coisas, é Deus.
3ª via: Procedente do possível e do necessário – a vida do ser contingente ao ser necessário:
Vemos que certas coisas podem ser e não ser... nem todos os seres são possíveis, mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário... não é possível proceder ao infinito, nos seres necessários... Por onde é forçoso admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa de sua necessidade, antes sendo a causa da necessidade dos outros; e a tal ser todos chamam Deus (AQUINO, 1980 p. 19-20).

Para Tomás os seres contingentes, que nascem, transformam-se e morrem, não têm em si a sua própria necessidade, tendo apenas a possibilidade. Deus é, portanto, o puro ato de existir, é ele quem dá ato às coisas que estão em potência. É, assim, o ser necessário que tem em si a razão da sua existência e dá aos demais seres a necessidade de existirem.
4ª via: procedentes dos graus que se encontram nas coisas – dos graus de perfeição ao absolutamente perfeito:
Nelas (as coisas) se encontram em proporção maior e menor o bem, a bondade, a nobreza e outros atributos semelhantes... Há algo verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por consequente, maximamente ser;... Ora, como o que é maximamente tal em um gênero, é causa de tudo o que esse gênero compreende... Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo o que existe, e chama-se Deus (AQUINO, 1980 p. 20).

É a via que expressa talvez mais nitidamente o ponto de partida de Tomás das coisas concretas e não das ideias. Percebe que as coisas possuem adjetivos que se graduam a caminho da perfeição. Se há vários graus, deve haver um grau máximo e absoluto, este é Deus e é ele quem permite aos demais seres graduarem-se.
5ª via: Procedente do governo das coisas – da finalidade das coisas pela inteligência ordenadora:
Vemos que algumas coisas, como os corpos naturais, carecentes de conhecimento, operam em vista de um fim... mas não tendem ao fim sem serem dirigidos por um ente conhecedor e inteligente... Logo, há um ser inteligente, pelo qual todas as coisas naturais se ordenam ao fim, e a que chamamos Deus (AQUINO, 1980 p. 20).

Diferentemente de Aristóteles, a causa final está nos seres governados por Deus, que é sua causa eficiente. As criaturas tendem a um fim que não podem determinar por si mesmas, é Deus, conhecedor e inteligente, quem ordena o cosmos.

Cláudio Geraldo da Silva

A partir de: AQUINO, Sto Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. Vol. 1. 2.ed. Porto Alegre: Grafosul. 1980, p. 15-20.