quinta-feira, 17 de junho de 2010

Cristianismo e filosofia


Os três artigos propostos, Filosofia e Cristianismo, de Carlos Palácio, Cristianismo e Filosofia, de João Batista Libânio e Cristianismo e Filosofia, de Mário Bruno Sproviero, estabelecem uma contrastante relação entre as duas coisas. Tal paradoxo apresenta-se como consequência de uma construção histórico-filosófica, que desencadeou numa nova forma de pensar e viver.
Carlos Palácio trabalha com a ideia de que a transição para o helenismo foi marcante na inculturação cristã. Para ele, há uma distinção entre as partes, pois a filosofia trabalha com a inteligibilidade enquanto o cristianismo parte de um acontecimento histórico (a vida de Jesus), baseado mais na experiência do que na razão. O cerne deste artigo é a atração exercida entre fé e razão, o que se viu claramente na filosofia medieval com Tomás e Agostinho. No entanto, a dissertação de Palácio perpassa pela era moderna, onde questiona a razão do divórcio entre ambas.
O trabalho de Libânio inspira-se basicamente na atração fé – razão estabelecida por Palácio. Aqui, esta atração fundamenta-se em duas colunas: o anúncio e a trilogia central da filosofia (Deus, homem e história). A relação se dá numa metáfora do processo judicial, em que primeiro se lista a acusação da modernidade ao cristianismo, partindo do pressuposto de que ele seria fonte de alienação e de dominação, pela sua influência sobre a consciência da sociedade. O cristianismo contra-argumenta, considerando-se fonte de muitos empreendimentos da modernidade, a partir da sua abertura ao sensível através da vontade de conhecer, não sendo assim, estranho a modernidade, a quem trouxe algumas bases intelectuais e espirituais. Acusa também o modernismo de despir o homem de seus valores, centrando-o no individuo que, pela falta de fé, acha-se em profunda crise. Além disso, a modernidade dá a si mesma valor religioso sem que haja valor moral.
Já Sproviero visa refazer a ideia de uma dimensão ontológica-personalista ao cristianismo. Trabalha o ateísmo, que tem suas raízes na vontade sem excluir os motivos intelectuais, já que a inteligência se equipara à vontade. Outro aspecto marcante no trabalho é a liberdade, que é essencial ao cristianismo, uma vez que a criatura deve ir do ser dado ao ser-se no Criador.
Nota-se que os três artigos conduzem a reflexão em busca da correlação entre Filosofia e Cristianismo, mas há de se questionar, não a validade dos argumentos apresentados, mas sim a contextualização em que estes se dão. Autores de diferentes meios dariam, provavelmente, outro enfoque à discussão. Enfoques estes que poderíamos ressaltar como a cristianização da filosofia no fim do helenismo e início da era medieval, tanto por não filósofos, como por grandes nomes, como Agostinho, e sua reinterpretação do platonismo, e mesmo Tomás de Aquino, e seu Aristotelismo refeito. Ou também, questionar se, de fato, na era moderna a ruptura entre cristianismo e filosofia não teria sido, ao contrário do que disse Libânio, uma alavanca para o desenvolvimento de uma nova forma aberta de pensar.
Mas apesar de tudo isso, a filosofia, mesmo nas diversas correntes (materialista, racionalista...) em que se negou a existência de Deus ou se subjugou a importância da religião não conseguiu que realmente houvesse uma independência dela, pois mesmo nessa situação a religião foi objeto de discussão.
Fatores tais mostram a relação, nem tão perfeita, nem tão impossível, de filosofia e cristianismo. Levam, no entanto, a profundas reflexões sobre o que se deve a cada uma e o que se deve ao conjunto.