sábado, 19 de junho de 2010

Conhecimento demais compromete a liberdade?

Diz o senso comum que saber não ocupa lugar. A simples análise da vida humana leva a essa compreensão, principalmente quando o homem se percebe constantemente em criação. Criado e recriado a cada dia, para as mesmas coisas, sempre vistas sob ângulos diferentes. Apesar disso, como diz Paulo Freire, “cada ponto de vista, é a vista de um ponto”. Assim, mesmo a partir de análises simplistas como essa, o lugar do conhecimento humano aparece como que em destaque nas suas preferências, e mais que isso, necessidades. Sendo, portanto, um animal em gaio e constante aprendizado.
Contudo, como citamos em sala, contextualizando a discussão ao escrito de Corrado Fratini, em Homem Retalhado, vimos que o conhecimento é fundamental na justificativa da ação humana, podendo agir com liberdade de escolha e decisão, tanto quanto seu senso de sabedoria o permitir, como se afirma na seguinte fragmento: “Cada um é pois responsável por aquilo que sabe, e só por aquilo que sabe. Não há responsabilidade sem conhecimento ou além do conhecimento” (FRATINI, 1980, p. 219).
Apesar disso, é evidente também que o homem nunca alcança satisfação intelectual. Caso contrário caberia perguntar o que faz um senhor de 102 anos, como o célebre Oscar Niemayer, receber diariamente em sua casa um professor de filosofia, para longas e profundas discussões. Em face disso, caberia ainda a questão: que tanto de conhecimento é demais? Qual é o ponto de passagem entre o conhecimento que liberta e o que aprisiona? Ou ainda: Os fatores realmente condicionam a liberdade humana, dizem respeito à posse ou ao uso do conhecimento?
A máxima socrática “só sei que nada sei” é a síntese do direcionamento do conhecimento para a liberdade de seu possuidor. Embora de aparência paradoxal, diante da condenação à sicuta, a atuação de Sócrates junto ao seu tempo revelou que o conhecimento contido no homem pode ser usado para a libertação dos seus semelhantes, mesmo que pela escolha do uso da liberdade em determinados fins, a consequência final seja a privação dela.
O eixo da questão parece permanecer não apenas no conhecimento adquirido e acumulado, mas na responsabilidade que o ser inteligente deve ter na sua conduta. Se, como diz Fratini (1980), o mundo é efeito de ato-inteligência, a participação humana nele também deve se pautar nessa mesma lógica, na qual o homem se assume como ponto ideal de referência.

Cláudio Geraldo da Silva
Trabalho entregue ao professor Edmar, de ética I. SDNSR