quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Dignidade do homem na construção do seu mundo

O terceiro princípio fundamental da república brasileira, conforme narra a Constituição Federal de 1988, trata da Dignidade da Pessoa Humana, e, em função disso, prevê a promoção do bem a todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Assim, perante o texto da lei, todos são iguais e portam os mesmos direitos e deveres, o que, teoricamente, coloca todo o conjunto de habitantes do país em um mesmo patamar de igualdade.
Para pensar em Pessoa Humana, é necessário tomar como ponto de partida as condições de vida de um povo, às vezes exaltado, às vezes humilhado, mas que possui em si a essência do ser, o que lhe confere de modo inerente o princípio da dignidade, fazendo-lhe viver conseqüentemente a individualidade, como vivência do ser, dentro da coletividade.
Baseado na filosofia moderna de Kant, Nicola Abbagnano conceitua Dignidade Humana como aquilo que é mais intrínseco ao homem, que não tem preço, por isso insubstituível; parte de seu ser que não pode se tomar como meio, mas como fim em si mesmo. Ou seja, pensa-se na pessoa humana como algo complexo, para onde devem ser apontados todos os recursos de desenvolvimento pessoal na perspectiva de produzir uma sociedade melhor e não como algo a ser usado para o crescimento individual de outras pessoas.
Neste contexto de proporcionar um crescimento a todas as pessoas, João Paulo II discursando aos portadores de deficiências físicas, disse: “Deus nos mostrou de modo insuperável como ama cada homem, e com isso lhe confere uma dignidade infinita.” Dignidade essa, de tamanha infinidade, que cada pessoa tem um compromisso de reafirmá-la, conforme exorta pastoralmente o Documento de Aparecida no número 389, que atribui a missão de comunicar a vida plena e feliz para que cada ser viva de acordo com a dignidade que Deus lhe deu.
A cara da sociedade assusta! A fome e a guerra que matam, o desemprego que leva à violência, que por sua vez leva à insegurança, o aborto e a eutanásia que ferem o princípio da vida, a exploração e o abandono infantil, a prostituição, as más condições de saúde e moradia que deixam parte da população à mercê da sorte, a educação precária que não ajuda formar os cidadãos, que, pela educação, poderiam mudar esse panorama e tantas outras mazelas do tempo atual. É por aqui que se vê como a maior parcela do povo vive: sem dignidade alguma!
Se, de fato, a Dignidade da Pessoa Humana é, legalmente, um dos princípios fundamentais da constituição e se é, filosoficamente, aquilo que o homem tem de mais importante em seu ser, deixar que ele viva indignamente é atentar contra sua própria natureza através de uma incoerência perniciosa que injustamente contesta a igualdade entre todos os cidadãos que a lei textualmente garante.
Neste sentido, Emmanuel Mounier, filósofo contemporâneo nascido na França, vê a pessoa encarnada em um corpo e imersa na história, sendo comunitária por natureza. Assim, tende a uma sociedade chamada personalista onde o centro é a pessoa não – objetivável , inviolável, livre, criativa e responsável, apresentando uma forma de salvaguardar os direitos, ou seja, a Dignidade da Pessoa Humana em relação aos fatores de risco apresentados pela sociedade.
As condições de vida em qualquer meio social dependem fundamentalmente da estima que se faz do homem que nele está imerso, do quanto se preocupa com o que ele come, veste, por onde anda, em que trabalha e que dignidade tem em seu serviço, assim como, da forma como ele pode se expressar, agir, viver e etc. Sendo observados todos esses elementos, a qualidade de vida do ser humano deve melhorar, pois a ele, será dado valor digno.
Por estes e outros fatores, surgem várias questões filosóficas, sociais, culturais, religiosas e políticas, todas convergindo para o mesmo ponto: O valor que se dá e se faz da Dignidade da Pessoa Humana. Há hoje uma tendência em se falar muito disso, em se arrumar inúmeras soluções para o problema da humanidade, ou mesmo, considerá-la como tal problema. E dentro de tudo isso, o importante é considerar o homem como sujeito de seu processo histórico, autor e protagonista de sua própria peça em que encenam uns e outros, lado a lado, como aqueles por quem se faz um mundo melhor, pautado na dignidade e em todos os benefícios que dela emanam.

*Cláudio Geraldo é estudante do curso de filosofia do seminário diocesano Nossa Senhora do Rosário de caratinga, MG.