quarta-feira, 16 de junho de 2010

A roda como grande invento da humanidade


Segundo algumas hipóteses, a roda foi inventada a cerca de seis mil anos, na Ásia, provavelmente na Mesopotâmia. Foi uma invenção extraordinária, pois alavancou toda uma revolução no sentido do movimento, uma vez que pela roda, o campo dos transportes e da comunicação se viu mudado. Foi por ela que o homem pôde facilitar sua locomoção, percorrendo e transportando coisas grandiosas pelo mundo.
Grandes foram os inventos que a sociedade alcançou. Todos e cada um com sua importância. Porém, para mim, nenhum foi maior que a roda, já que outras invenções mirabolantes dependem dela, portanto, acredito em seu valor, tanto pelo que representa em si mesmo, quanto pelo que contribuiu para a criação de outras coisas.
A origem exata da roda é controversa, há muitas hipóteses e teorias tão reais e ao mesmo tempo tão fictícias que colocam em dúvida qualquer paradigma a este respeito. Porém, não há dúvida quanto ao motivo pelo qual ela surgiu: a necessidade de movimento do ser humano. Talvez sua inspiração tenha sido a partir dos troncos de árvores que os povos antigos, dentre os quais algumas teorias destacam os assírios e os egípcios, colocavam debaixo de blocos de pedra ou de caixas cheias de algo para transportarem. Atitude, embora antiga e até “pré-histórica”, muito inteligente, pois, perfeitamente explicável pela física hoje, a idéia de que, com movimento circular o atrito entre massa transportada e solo se torna muito menor, já que deixa de ser atrito de arrasto e se torna atrito de rolamento, o que tornava o transporte mais ágil.
Vejo que a diferença que a roda trouxe para o destino humano é incalculável. Um pouco de matemática pode ajudar a entender. Um homem adulto e treinado percorre, num dia de caminhada, cerca de 30 quilômetros, e a carga máxima que consegue carregar é cerca de 40 quilos, além do seu próprio peso. Com a domesticação de animais, por volta de 5.000 a.C., a capacidade de carga no lombo de burros ou mulas aumentou para 100 quilos. No entanto, somente quando se criou a carreta de bois, ou seja, uma madeira sobre um eixo com duas rodas, a capacidade de carga atingiu um aumento considerável, passando para 1.200 quilos, o que equivale a 30 vezes mais que quando o homem fazia esse processo caminhando.
No que concerne à roda como meio de transporte, acredita-se que no início era feita de uma peça de madeira inteiriça, compacta e pesada. Para que ela se tornasse veloz e de mais fácil manejo, fizeram-se inúmeras aberturas, originando-se, pouco a pouco, a roda com raios. Esses eram em número de quatro, mas com o passar do tempo foram aumentando. As rodas raiadas, acredita-se, apareceram na Mesopotâmia e na Pérsia, no ano 2000 a.C. Nessa mesma época, a coroa, ou seja, a parte externa da roda que mantém contato com o solo, foi protegida com inúmeros pregos de cobre, muito próximos uns dos outros, para que não se estragasse. Há também hipóteses que os assírios e os persas colocaram-lhe depois um círculo metálico, na mesma intenção de protegê-la.
A importância da roda, como já citei, não é apenas na área de transportes, pois com seu movimento giratório ou pelo seu movimento controlado por rotação, assumiu valoroso significado no campo da mecânica. Tornou-se logo parte integrante das máquinas que auxiliam o homem a realizar suas atividades mais exaustivas, como por exemplo, o guindaste, que ajuda levantar peso. Nele a roda mudou de aspecto, transformando-se em uma roldana, ou seja, em uma roda estriada de modo que uma corda pudesse correr dentro dela, dando origem à polia. Os primeiros guindastes usados pelos gregos e pelos romanos para suspender blocos de pedras, eram formados por traves fortes, chamadas mastros, quase sempre inclinadas e no ponto de encontro fixava-se uma polia.
Muito mais recentemente surgiu a roda de água ou hidráulica, conhecida entre os gregos e os romanos, usada ainda hoje no campo. Era provida de pequenas pás e servia para transportar a água até os canais de irrigação. No século I d.C., a roda hidráulica passou a fazer parte de uma invenção revolucionária: o moinho hidráulico. Nestes, as moendas eram giradas por rodas munidas de pás, movidas pela força da água. Os primeiros moinhos desta espécie eram rústicos, apresentando uma roda horizontal e moviam-se lentamente, o que mudou quando se inverteu a posição da roda, colocando-a verticalmente, idéia que deve ter incentivado a criação também dos moinhos de vento. Assim, até aqui, vemos que a roda teve também um papel dentro da alimentação e as quatro principais fontes de energia que o homem utiliza para sua existência são fundamentadas na roda: a água, a energia elétrica, o animal e o vento.
Outro mecanismo em que a roda assumiu um papel de revolução na vida social do homem foi quanto às técnicas de tecelagem e de fiação, arte antiqüíssima que com a invenção da roca e do fuso, alavancou um processo de desenvolvimento e melhoramento da qualidade do tecido e das vestes produzidas.
A influência da roda através do tempo é muito mais presente do que se pode imaginar. Por ela, a humanidade também pôde controlar-se melhor diante do tempo, com a invenção do relógio a partir das rodas dentadas, que se convencionou chamar engrenagens, que reguladas com tamanha perfeição e sincronia marcam exatamente segundos, minutos e horas, o que de forma indireta, possibilitou também a maior confiabilidade e exatidão no calendário, isso tudo sem, contanto, desprezar aquilo que se tinha descoberto anteriormente através da observação dos astros e do tempo, que provavelmente também estão ligados aos movimentos circulares do sol e da terra.
Mecanicamente, as engrenagens salientam a importância da roda. O movimento, tal qual no relógio, que por elas é produzido deu origem às grandes máquinas que se aperfeiçoaram ao longo da história e trazem a nós hoje uma imensidão de produtos altamente bem produzidos, inclusive rodas aperfeiçoadas para as mais diversas finalidades.
É claro que como tudo na vida, a roda passou por um processo de evolução que ainda existe. Junto com ela o mundo evoluiu e se tornou altamente tecnológico. A roda ainda é a mesma enquanto idéia, mas totalmente mudada enquanto meio de utilização. Penso, por exemplo, num trecho de linha férrea na Europa, onde apenas um zumbido indica a passagem de um trem de passageiros a quase 300 quilômetros por hora; e numa estradinha de terra batida numa fazenda do interior, em que uma estrutura barulhenta de carro de bois passa a menos de cinco quilômetros por hora, produzindo um ranger provocado pelo atrito entre a roda de madeira e o eixo de apoio. A única semelhança entre esses dois acontecimentos, converge talvez, para o fato de simplesmente andarem sobre rodas. Semelhança essa, que ainda mantém em si, a essência para qual se criou a roda.
Outras tantas coisas passam pelo mesmo crivo. O avião, tão grande voador, pousa sobre rodas. A energia elétrica, em suas diversas formas, origina-se do movimento das rodas. O automóvel e todos os meios de transporte, os meios de comunicação, a imprensa, a indústria em geral, assim como os acontecimentos que marcaram nossa história, de algum modo se ligaram à roda. Tudo depende da roda.
Assim, mais depressa ou mais devagar, milhões de rodas, pequenas ou grandes, funcionam em todo o mundo, transformando a vida em movimento. Produz efeitos inclusive estatísticos, pois um dos principais indicadores do progresso consumista de um país costuma ser medido pela facilidade com que seus habitantes podem se locomover e transportar os produtos de seu trabalho ou para seu consumo e pela disponibilidade desse produto, ligado à sua produção.
Por fim, considero a roda como A INVENSÃO DA HUMANIDADE, porque acredito que por ela o mundo pôde se conhecer e crescer. Nada na vida pode ser estático, tudo requer movimento, dinâmica, processo... disse o filósofo grego que uma vida não experimentada não é digna de ser vivida, experiência é criação, vivência de algo. A roda aumentou a possibilidade de dignidade de experimentação para o homem, que progrediu dia a dia com os benefícios que ela o concedeu.