quarta-feira, 16 de junho de 2010

Caminho de Domingo


Anteontem era domingo, dia de missa e de descanso. Acordei as seis, tomei um banho, escovei os dentes, coloquei minha roupa de domingo e caminhei até a pequena capela do bairro onde moro, para a missa dominical.
Nada de novidade! Afinal de contas, todos os domingos eu faço a mesma coisa pela manhã, não que eu veja a missa como uma rotina dominical, mas por estar tão habituado a fazer sempre o mesmo percurso, com as mesmas companhias, no mesmo horário, até o padre sempre é o mesmo e nesta monotonia aparente, nada me pareceu estranho. Fui, voltei e o dia correu conforme manda o costume.
O fato curioso ocorreu-me ontem, aliás, só ontem eu me dei conta de que algo no domingo não fora como de costume. Já me era corriqueiro ver no caminho da capela, um homem deitado na calçada de sua casa logo cedo, sempre olhei para ele como quem olha para um bêbado, compadecido, mas sem qualquer atitude que pudesse ajudá-lo. Naquele domingo não estava lá apenas o homem, mas também um jovem, de aparentemente uns vinte anos, alto e forte, caído ao chão como um trapo. Embora eu o tivesse visto quando passei, não atribuí importância àquilo, para mim, era apenas mais um bêbado que afogara suas mágoas na noite anterior e não quisera privar-se da companhia do velho homem e resolvera passar a noite ali mesmo.
Triste ignorância a minha, descobri ontem! Era ele o único filho daquele senhor. Curioso e um tanto preocupado, sondei um visinho a cerca daquele assunto, disse-me ele, que o pai, nas suas vagas horas de sobriedade, não poupava conselhos ao filho para que este não tomasse os mesmo rumos tomados pelo seu genitor.
Ouvi e calei-me! A reflexão ficou martelando em minha cabeça todo o restante do dia. O conselho, o exemplo, a atitude. Três coisas tão importantes que, fora de sintonia, são catastróficas. Pensei, refleti, formulei conceitos e depois de tanto queimar neurônios, concluí: Onde os exemplos são conceitos e não fatos, os escândalos são inevitáveis.
Pobre filho, antes tivesse ouvido o pai e não o visto. Pobre pai, antes tivesse praticado o que dizia e não tivesse dito nada.
Já estou pensando no caminho de domingo. Talvez sinta alguma diferença agora, e quem sabe, observe aquilo que acontece ao meu redor, e aprenda que para cada dia há uma lição diferente e que de cada lição se extrai aquilo que se está preparado para compreender.

*Cláudio é estudante do curso de filosofia do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário de Caratinga.