A relação indivíduo-grupo parece marcada por diversos elementos e, por isso, analisada a partir de diversos ângulos. O fato mais concreto é que o indivíduo não se faz separadamente do grupo, nele se insere, a ele se dá e dele depende. A interação entre as partes em tal relação busca ser conhecida pela psicologia que se organiza em função disso.
O texto Psicologia social e comunidade, de Sissi M. Neves e Nara Maria G. Bernardes, coloca a psicologia comunitária inserida na social, como uma ramificação sua. Tal ramo dedica-se ao conhecimento dos indivíduos nos grupos sociais, explicitando as relações entre ambos, dadas por fatores sócio-históricos e culturais, que influenciam e são influenciados pelos homens. Isso para ser colocado na perspectiva da formação de uma consciência crítica, de uma identidade coletiva e individual mais autônoma e de uma nova realidade social.
Para tanto, o texto explora o psicodrama de Moreno, que leva em consideração os contextos social, grupal e dramático. Nele, a inversão dos papéis, em vista do encontro entre o Eu e o Tu, possibilita que um assuma o lugar do outro e se recomponha o sentido da unidade e do pertencimento ao grupo. O método se aplica em vários contextos comunitários, mais frequentemente nos grupos em que os indivíduos estão em situação de risco, nos quais também as necessidades e os desafios são maiores e, no entanto, menos conhecidos.
O texto O ser com o outro e o ser em grupo, de José Newton, confronta a ideia de psicologia social à de psicologia individual, partindo de pressupostos já lançados muito anteriormente por Freud, ou de forma mais ampla, por Aristóteles que considerava o homem um animal político. Para o autor a psicologia individual coloca-se como ficção, pois fazemos parte de um tecido social e, assim, não existe o “ser só” do sujeito psíquico, mesmo que estejamos excluídos do convívio público. Justifica sua afirmação embasando-se na Dialética do senhor e do escravo de Hegel, em que nada se dá por si mesmo, estando sempre em função de um desejo e, mais comumente, de um desejo alheio, que o faça ser reconhecido. É uma relação de intersubjetividade.
No caso do experimento de Triplet, quando o indivíduo é observado em situação isolada e depois em par, a constatação do desempenho varia conforme o indivíduo espera ser reconhecido. Embora a presença de outrem aguce o espírito de competição, segundo o autor não é ela que o gera, pois o olhar alheio está sempre ao nosso redor, seja ele real ou imaginário. Aqui o indivíduo coloca-se sempre diante do grupo, mas quer se destacar nele; nesse caso é o grupo que afirma a identidade do indivíduo.
Nos dois textos a relação indivíduo-grupo é tomada em focos diferentes, embora ambos afirmem a superioridade do que se pode dizer psicologia social em relação ao que supostamente se diria psicologia individual, uma vez que para ambos a existência do indivíduo implica a existência do grupo. No entanto, enquanto no primeiro texto o método psicodrama visa de alguma forma harmonizar a relação entre os membros do grupo, no segundo coloca-se a busca do reconhecimento público e a experiência de Triplet enfoca a competição entre indivíduos.
De fato, a maneira como se vive hoje leva a questionar a aplicabilidade e, até mesmo, a validade do primeiro método. Não que seu uso não surta efeito, mas que parece complicado conseguir usá-lo em determinados grupos, quanto mais naqueles considerados de risco, nos quais a experiência de Triplet faz-se muito mais presente.
O espírito individualista e competitivo marcante na pós-modernidade parece comprometer a ideia de coletividade. A ideia de que o indivíduo está em função do grupo assume muito mais uma razão inconsciente. Cada um parece acreditar ser isolado, independente e, portanto, o maior entre todos. Esse “entre todos”, porém, afirma a superioridade da psicologia social sobre a individual, é ele quem determina a forma como o indivíduo se relaciona, mesmo que em posição de isolamento e competição, diante dos demais.
É em decorrência disso que na maior parte das vezes o indivíduo, embora membro de determinado grupo, não assume sua dimensão de pertença e não se incorpora efetivamente a ele em vista de estreitar a relação, na tentativa de compreensão e aceitação do outro. Este, que deveria ser um companheiro, torna-se um rival, alguém com quem não colaboro e de quem não espero colaboração. O entrave do desenvolvimento social passa por esse crivo.
Por fim, pode-se dizer que a relação homem mundo se enquadra nesses termos. A psicologia, na busca de conhecer a psique humana, pode ajudar nessa relação, colaborando com a formação de um autoconhecimento pessoal dos indivíduos e, só a partir disso, tentar conhecer a sociedade que o engloba e determina seu agir.