O presente trabalho refere-se ao módulo Políticas da Comunicação, do curso de especialização Cultura e meios de comunicação: Uma abordagem teórico-prática, realizado no SEPAC no mês de janeiro de 2010. Tem por objetivo manifestar, numa síntese, parte do processo de aprendizagem e de busca de aprofundamento naquilo que se estudou no período.
Para tanto, conforme orientação, toma-se como base à primeira parte desse trabalho o livro Pastoral da comunicação: Diálogo entre fé e cultura, de Joana T. Puntel e Helena Corazza, do qual se apresentará uma síntese. A segunda parte procura estabelecer uma relação direta e indireta entre aquilo que o livro apresenta com o conteúdo das diversas aulas ministradas no decorrer do curso, inclusive no que se refere ao laboratório.
Quanto à síntese do livro, dar-se-á a partir da estrutura elaborada pelas próprias autoras, dividida em quatro partes. De início, se abordará elementos presentes no diálogo entre fé e cultura, dentro da pastoral da comunicação, a partir da motivação dos 50 anos da Pascom e de documentos usados pelas autoras. A seguir, será mencionada a progressiva insistência da Igreja em vista de uma formação para a comunicação ao longo de sua trajetória histórica. Depois, pretende-se colocar diversos pontos para a organização da pastoral da comunicação, listando partes de um planejamento. Por último, falar um pouco da espiritualidade da comunicação, a partir da participação humana no projeto criador de Deus.
Já para o segundo momento do trabalho, objetiva-se colocar pontos da exposição dos professores diante do que é trabalhado no livro no intuito de perceber, através de um diálogo de ideias, as relações que a Pascom estabelece com toda a reflexão acadêmica sobre políticas da comunicação.
O que será colocado a título de considerações finais é produto de reflexões acerca do assunto e impressões daquilo que se apresentou. Nelas serão pontuadas observações mais pessoais sobre a forma como a Igreja se insere no campo da cultura de mídia e como os agentes da Pascom podem colaborar com uma pastoral renovadora da Igreja frente à sociedade.
Assim, o trabalho que segue é fruto de observações, anotações, leitura, reflexão, questionamentos e, por último, de aprendizado real, sendo também ele material para tal conquista. Apresenta-se, então, um esboço organizado daquilo que marcou o segundo módulo, seja na sala de aulas, seja em sua extensão nos estudos posteriores.
Capítulo I
PASTORAL DA COMUNICAÇÃO: DIÁLOGO ENTRE FÉ E CULTURA
De modo geral, o livro Pastoral da Comunicação: Diálogo entre fé e cultura apresenta a crescente preocupação da Igreja com a questão da comunicação dentro de sua perspectiva pastoral, a partir de seus diversos documentos e iniciativas.
Usando de uma linguagem simples, as autoras traçam um caminho para a compreensão, planejamento, implantação e continuidade da Pascom. A longa e profunda experiência que trazem, somadas ao dinamismo e entusiasmo que lhe são peculiares, faz com que a obra de Puntel e Corazza manifeste, como expressão de amor, o intenso zelo que têm para com o bom funcionamento da Pastoral da Comunicação na Igreja, desde as dioceses até as comunidades de base.
Na introdução à obra, as autoras relembram a afirmação de João Paulo II quanto à necessidade de se evangelizar a partir dos novos areópagos, que têm sido descuidados. Daí a perspectiva do avanço do anúncio pelas novas mídias e nelas.
No conjunto em que a obra se apresenta, a Pascom pode ser entendida num contexto de Igreja e sociedade, fazendo necessária sua presença para um melhor entrosamento entre as partes e uma pastoral de conjunto, bem organizada e efetiva.
1.1 – Pastoral da Comunicação: diálogo entre fé e cultura
Editado em 2007, o livro comemora os 50 anos da Pascom, surgida com a carta encíclica Miranda Prorsus, escrita pelo papa Pio XII em 1957, momento em que a televisão e o rádio começam a popularizarem-se e nasce a preocupação da Igreja com a educação de seus receptores. Para esses, seriam criados organismos nacionais que não só preservassem e defendessem, mas também dirigissem, coordenassem e prestassem assistência às obras educativas dentro do campo das técnicas difusoras.
Segundo as autoras é importante fazer uma passagem conceitual quanto à compreensão de comunicação por vezes presente, inclusive nos documentos da Igreja. Isso através de uma nova visão que compreenda a “comunicação como um processo que envolva, por sua vez, muitos elementos, aspectos, interatividade, e que, portanto, não pode ser considerada de modo isolado” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 21). Ou seja, é necessária a mudança da mentalidade estática de que a comunicação se resume apenas no uso da técnica, mas, pelo contrário, seu fenômeno e implicações devem ser considerados, numa análise de conjunto da sociedade, aberta às novas tendências culturais e tecnológicas, sem, no entanto, perder a dimensão do pastoreio, tão essencial à Igreja.
Trata-se, segundo as autoras, de promover o diálogo entre fé e cultura, dando seguimento à afirmação de Paulo VI: “a ruptura entre o evangelho e a cultura é, sem dúvida, o drama de nossa época ”. A proposta é, seguindo a pedagogia de Jesus, dar passos graduais no estabelecimento da Pascom. “Daí a importância e o convite para a Igreja reconhecer, refletir e iluminar esse revolucionário lugar teológico, que sempre mais provoca a mudança de paradigmas, linguagens e métodos pastorais na evangelização atual” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 29), que é a cultura midiática, com quem se vai dialogar.
Para estabelecer esse diálogo, a Pascom necessita conhecer com profundidade elementos fundamentais da cultura atual, principalmente a crescente discussão quanto à crise da modernidade em face da pós-modernidade, e, consequentemente em toda a sua complexidade, à crise de identidade dos povos, estendida às comunidades.
A influência que a cultura midiática exerce sobre os indivíduos também aparece como fator de instabilidade para a Pascom, uma vez que volatiliza valores e relativiza padrões. Contudo, a comunicação pode ser considerada como elemento articulador da sociedade pela capacidade de fazer circular ideias, mesmo suscetível às constantes mudanças de cunho tecnológico, que, comparando a invenção da imprensa às autoestradas telemáticas e à realidade virtual, muito a transformou.
Assim, a comunicação na pós-modernidade inaugura um complexo modo de vida, integrando todo o mundo numa vasta rede digital. A Pascom precisa não apenas preparar-se para o uso profissional da técnica, mas de tomar consciência das mudanças exercidas pelas novas tecnologias sobre as pessoas e a sociedade, nas diversas relações. Precisa ser, portanto, uma pastoral midiática. São necessárias competência e prudência, para, no uso dos meios tecnológicos, promover uma justa reflexão sobre seu papel, estabelecendo eixos essenciais que deem coesão de princípios, pautados numa atividade ética e que ajudem as pessoas a encontrarem sentido à fé que assumiram dentro de sua própria cultura.
1.2 – Formação para a comunicação: A progressiva insistência da Igreja
O segundo capítulo da obra percorre o caminho da Igreja quanto à comunicação, relacionando as diversas concepções empreendidas ao longo da história. Coloca também a preocupação com a boa formação para seu exercício, principalmente nos tempos atuais de cultura midiática.
Embora, como já citado, a Pascom tenha surgido em 1957, com a carta encíclica Miranda Prorsus, já em 1936, com a encíclica Vigilanti Cura , a igreja manifestava preocupação com o receptor. Com o decreto Inter Mirifica, de 1963, a Igreja assume posições mais claras quanto à comunicação, reforçando a necessidade de se cuidar dos receptores, mas também de preparar-se para atuar no mundo da comunicação. Já a Communio et Progresso , de 1971, reforça a boa formação da consciência quanto à qualidade da informação recebida e, principalmente, quanto à preparação eficiente para usar das possibilidades de expressão nos meios, que devem agora ser problematizados nas disciplinas teológicas, especialmente na teologia moral, pastoral e catequética. Communio et Progresso manifesta ainda preocupação com a formação de sacerdotes e religiosos para a incidência dos meios na sociedade, em vista de um apostolado eficaz.
Apesar dos avanços atingidos até então, continua muito presente a preocupação da Igreja apenas com os meios. Só com a encíclica Redemptoris Missio , de 1990, é que os meios passam a ser vistos como uma nova cultura, a cultura midiática, e que dela não se pode descuidar, porque é o novo areópago da missão. Diz: “Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o magistério da Igreja, mas é preciso integrar a mensagem nessa nova cultura, criada pelas modernas comunicações” (RM apud PUNTEL; CORAZZA, 2007, p. 63).
Em 1992, o documento Aetatis Novae convida para uma educação e aprimoramento dos engajados na Pascom para uma comunicação consciente. Preocupa-se ainda com a formação espiritual e com a assistência pastoral para aqueles que trabalham nos diversos canais de mídia não católicos. A partir de então começa a haver um novo enfoque na discussão da Igreja sobre comunicação, considerando o pleno desenvolvimento da era digital. Surge, no ano 2000, o documento Ética nas comunicações sociais e em 2002 os documentos Igreja e Internet e Ética na Internet .
As oportunidades e os desafios do ciberespaço estão diante da Igreja e da Pascom, como uma das questões a serem afrontadas nesta nova era da comunicação. Muitos sites da Web já são de conteúdo cristão e muitos, não cristãos, abortam temas religiosos. Informações multiplicam-se velozmente, às vezes sem controle. A afirmação é de que não basta aos cristãos serem informados, mas também informadores com consciência cristã.
É a preocupação dos dois últimos documentos citados. Eles querem fazer da internet um ponto de força para a evangelização, usando de sua abrangência para envolver sempre mais pessoas e valores relacionados na rede.
A insistência da Igreja em razão da formação justifica-se nas palavras de João Paulo II, ao afirmar que as novas linguagens introduzidas pelos meios de comunicação influenciam nas relações humanas, necessitando, portanto, de uma formação adequada para evitar que os meios, que deveriam estar a serviço das pessoas, as instrumentalize.
1.3 – Organização da Pastoral da Comunicação
A partir da recomendação de Aetatis Novae para que cada conferência episcopal e cada diocese elaborem um plano pastoral completo de comunicação, ou seja, que se dê um “novo enfoque para os planos pastorais para que a ótica da comunicação perpasse toda a ação evangelizadora da Igreja” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 81-82), é que a Igreja abraçou de fato a Pascom.
A pastoral da comunicação assume um lugar integrador na Igreja, englobando todos os planos pastorais, a fim de que os membros da comunidade se assumam na cultura midiática, envolvendo toda a vida e ação da Igreja. Para tanto, é necessária na programação do processo de gestão contemplar a formação das lideranças, estudar documentos oficiais, tornar conhecido o significado da nova cultura da comunicação, assim como seu impacto e influência na sociedade e na percepção da fé. Deve fazer convergir diversas linhas da comunicação para a pastoral, estimular a colaboração entre as pastorais, ajudar aos catequistas revisar e atualizar métodos de ensino, além de formar comunicadores inseridos nesse plano pastoral. Pretende ainda formar continuamente ministros ordenados, assim como famílias, jovens e crianças, promover o acesso a publicações católicas e também marcar presença nos meios de comunicação locais.
Nas paróquias e dioceses o planejamento deve envolver todas as coordenações e pastorais, sendo desenvolvido por uma equipe diocesana de comunicação, com representação de cada área pastoral, em sintonia com toda a coordenação pastoral, assim também deve acontecer nas paróquias. As equipes diocesanas e paroquiais devem trabalhar em consonância, em cumprimento de um plano de articulação.
O planejamento integrado deve envolver diocese e paróquias, paróquias e comunidades, todas as pastorais e as pessoas, através do pensamento comum, estabelecendo vínculos pessoais e pastorais.
A Pascom é uma pastoral específica na Igreja e segue um organograma, partindo das Organizações Católicas (UCIP e SIGNIS) e estendendo-se ao Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, em Roma, para o DECOS (Departamento de Comunicação Social), na América Latina, para a CNBB, para os regionais, dioceses e paróquias.
Para o funcionamento da Pascom é necessário que as pessoas envolvidas tenham alguma formação na área, compreendam o campo da cultura da comunicação e amem a missão, buscando conhecer melhor a área Igreja e comunicação. Assumirem-se gestores do processo sem estrelismo, através do espírito de Igreja e comunidade. A equipe deve formar a consciência da comunidade sobre ser comunicação e ajudar a dinamizar a vida de comunicação da comunidade.
A Pascom abrange todas as pessoas e pastorais. Externamente, divulga as ações para a sociedade através dos diversos meios e relações pessoais e culturais. Internamente, interage as pastorais, promovendo o diálogo e a informação entre elas e ajuda na acolhida, catequese, liturgia, sempre num processo relacional em vista do desenvolvimento humano.
Em Aetatis Novae a Igreja estabelece algumas linhas orientadoras para o planejamento da Pascom de modo que integre estrutural e pastoralmente todos os setores da Igreja. Para esse planejamento deve-se partir de uma análise da realidade, depois identificar as prioridades, definir os objetivos e metas e estabelecer temáticas. Deve ainda deixar alternativas pensadas, para, após a avaliação, se preciso, usá-las.
1.4 – Espiritualidade da Comunicação
Sendo uma Pastoral, a Pascom deve estar alicerçada primeiramente na espiritualidade, “pois ela é seiva que dá vida aos ramos” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 111). É a dinâmica e vivacidade da Palavra de Deus que torna efetiva a Pascom. Durante toda a história da salvação, Deus se comunicou com o seu povo, a Pastoral da Comunicação quer colaborar nesse processo, ajudando Deus a continuar comunicando salvação ao seu povo. É relação, é entrosamento, envolvimento geral.
Pela comunicação o ser humano une-se ao ato criador de Deus, tornando-se sujeito do processo. O homem continua a criação quando descobre novas tecnologias no campo da comunicação e colabora com o progresso da humanidade. Quando se reconhece partícipe da criação, o homem assume sua importância no desenvolvimento histórico, social e religioso da obra de Deus. Quando, ao contrário, se fecha em seu mundo isolado, nega aos seus a oportunidade de crescerem juntos e deixa de sentir o amor que motiva a vida humana em Deus.
A figura de Jesus, como o comunicador do Pai, manifesta a perfeita relação entre Deus e o homem, a ponto de Ele mesmo se fazer humano, pra melhor se revelar. A afirmação de Jesus como Caminho, Verdade e Vida “é uma proposta de espiritualidade que envolve a pessoa no seu todo” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 116). É preciso estar com ele sempre.
Como proposta para a formação de uma sólida espiritualidade do agente da Pascom, as autoras sugerem ainda na obra uma série de belas orações para rezar a comunicação. Entre elas estão presentes textos mais clássicos, como Jesus, Perfeito comunicador e Oração pelos comunicadores, de Irmã Joana Puntel, que reafirmam a vinda de Jesus como Caminho, verdade e Vida e pede por todos os engajados na comunicação; a Oração do internauta, de Adriana Zuchetto, na qual se pede que todos os internautas sintam a felicidade de encontrar Jesus, andarilho nas autopistas do ciberespaço; os belos O tempo e o momento e Hipóteses e teorias, de Edna Pires; além de outros, inclusive de bem-aventurado Tiago Alberione.
Capítulo II
PASTORAL DA COMUNICAÇÃO: RELAÇÃO LIVRO – SALA DE AULA
As políticas da comunicação, assunto abordado nesse módulo, permeiam toda a estrutura da Pascom. Sendo ela a posição participante da Igreja no processo de comunicação na cultura midiática, está também inserida em toda a discussão ética, política, sociológica e tecnológica, bastante refletida no último módulo.
Falando da “Fundamentação ética nas políticas de comunicação”, o professor Francisco Serralvo lembrou a origem dos termos ética e moral, buscando uma reflexão acerca dos fundamentos que delimitam esse campo, dentro da perspectiva profissional de comunicação, no contexto da economia de mercado. A questão ética tem se apresentado como um desafio, uma vez que, segundo o professor, sua função é estabelecer uma relação mais justa dentro das estruturas sociais.
Assim coloca-se a preocupação da Igreja, que Puntel e Corazza (2007) lembram ao mencionarem os documentos Ética na publicidade (1997), Ética nas comunicações sociais (2000) e Ética na internet (2002). Na visão das autoras, esses os princípios éticos devem pautar-se na solidariedade, subsidiaridade, justiça, equidade e verdade, não se prendendo apenas ao conteúdo, mas também ao sistema que o envolve.
Professor Mauro Wilton abordou com seriedade a constatação, da qual Puntel e Corazza (2007) também falam, de que houve um rompimento de época, fruto da crise da modernidade, que resultou na pós-modernidade. Nela, palco da globalização, o global e o local, ou na expressão própria de Mauro, “glocal”, interagem-se, naquilo que professor Mauro chamou de blocos e regiões, sendo novas distribuições do poder midiático, uma vez que a comunicação é essencialmente relacional e, como ele mesmo diz, citando Foucault, toda relação é uma relação de poder, que é mediado pela Igreja, pelo Estado e pela Economia.
Mauro Wilton, noutra aula, falou ainda das políticas públicas, dos confrontos entre o bem comum, os interesses privados e a opinião pública. A luta pela real implantação da Pascom se dá no sentido de garantir que todo o processo esteja em favor de todos, mesmo que agindo a partir de “coletivo virtualizado”, como diz Mauro, entendendo que o poder não está nos meios, mas na vida que eles produzem.
A professora Sílvia Borelli abordou outro tema muito presente também na obra de Puntel e Corazza (2007) que são os desafios e políticas de comunicação na perspectiva das novas identidades e do multiculturalismo, principalmente quanto às novas identidades. Sobre isso, citando Stuart Hall, as autoras lembram a fragmentação do indivíduo, que é parte do processo de mudança. Outra relação muito clara entre aula e livro é a afirmação de professora Sílvia de que as transformações acontecem muito rapidamente e que o maior processo de comunicação está no campo da cultura e das comunicações. O que na expressão de Puntel e Corazza (2007) é buscar conhecer e admitir a mudança tecnológica comunicativa, que acontece hoje como fenômeno global, conjugada com tantos aspectos da vida social.
Outro conteúdo ministrado por Sílvia Borelli foi com relação às novas tecnologias e novas mídias, sob o eixo da inclusão e da exclusão. Segundo a professora, o novo vem caracterizado pelo diálogo com suas bases, se requalificando, cabendo a qualquer momento do que é novo, pensar em quais aspectos inclui e exclui. Como pastoral da integração, a Pascom refaz constantemente essa avaliação frente ao novo, mantendo-se aberta às novas tecnologias em face de atuar com consciência dentro das novas mídias, de modo que todos sejam incluídos no processo.
A professora Rosemary Segurado tratou das políticas de concessão das diversas mídias, percorrendo um percurso histórico dessas concessões no Brasil. Usando dos recursos de diversas mídias e em diálogo com a cultura midiática, a Pascom precisa também, segundo as autoras, organizar-se de tal modo que consiga enquadrar-se nos requisitos legais em vista de um testemunho ético e coerente na evangelização.
O eixo central do livro foi trabalhado em sala de aula com mais precisão por uma de suas autoras, a irmã Joana Puntel , com o tema Igreja: sua identificação e as políticas de comunicação. A professora, para quem as políticas de comunicação são uma decorrência da identidade cristã, partiu de constatações sociológicas no campo da comunicação, entrelaçando-as às constatações da linha eclesial, traçando também uma trajetória histórica, destacando o surgimento da Campanha da Fraternidade em 1664, como importante iniciativa de comunicação e estratégia comunicacional da Igreja. Abordou também temas como a identidade da missão e os desafios de fazê-la hoje.
Ressaltou elementos presentes no livro, como o conhecimento do interlocutor através do estudo da mediação, dentro do diálogo fé e cultura. Sobre a Pascom, enfatizou a necessidade de se somar forças no interior da Igreja em vista de ajudar na sua atualização. Lembrou ainda a importância da Pascom como pastoral da integração, que encampa as demais pastorais.
Cecília Peruzzo , falando de mídias alternativas e comunitárias, lembrou que não são somente fuga do convencional e não se referem apenas aos meios, mas a processos mais amplos. No geral, estão ligadas às expressões populares de cunho crítico, que a própria Igreja muito usa, principalmente nas comunidades de base, sempre em vista da justiça social. Quando Puntel e Corazza (2007) falam da comunicação na Igreja sob o ângulo prático da relação entre comunidade e sociedade, elas listam meios como boletins, jornais e programas de rádio e TV. Salvos alguns casos mais raros, a grande maioria desses órgãos usados na Pascom têm esse caráter alternativo e comunitário, uma vez que são expressões de pequeno alcance e revelam a organização popular das comunidades, ou representam alguma alternativa diante dos grandes veículos oficiais de comunicação.
A nova fronteira do evangelho, que as autoras consideram o ciberespaço, de um modo mais amplo, considerando todas as mídias digitais, foi apresentada com propriedade pela professora Marlyvan Moraes . Segundo ela, são mídias pós-massivas, baseadas na usabilidade, nas quais a produção é descentralizada e em tempo real.
Puntel e Corazza (2007) ao falarem de uma perspectiva de futuro da comunicação, lembram as autoestradas eletrônicas, que colocam todo o planeta numa imensa rede comunicativa, que permite a qualquer um em qualquer lugar entrar em contato com todo o mundo. Falando de sociedade de redes, a professora Rose Melo Rocha enfatizou que as redes determinam o desenvolvimento da sociedade, tanto fisicamente, por meio das redes materiais, como virtualmente, pelas redes simbólicas. A afirmação de Puntel e Corazza (2007, p. 47) de que “não se poderá mais viver senão em rede” associa-se a colocação de Rose quanto à apropriação das redes digitais de caracteres próprios das redes primitivas. Ou seja, o ser que é necessariamente social adapta-se e permite-se criar e envolver-se em redes que se atualizam constantemente.
Também no laboratório os dois eixos – política e pastoral da comunicação – foram bem notados. Com auxílio da professora Margarete Pedro e do professor José Reis diversos dos pontos discutidos na parte expositiva do curso foram retomados e rediscutidos, na perspectiva da ação prática.
Todo o processo de produção de um jornal está envolvido por uma política, diga-se da comunicação, que estabelece condições e limites. Daí a tomada de posições éticas diante de diversos assuntos; o cuidado com a pessoa humana envolvida, a preservação de sua dignidade; a imparcialidade e a capacidade de escuta dos diversos lados tratados; até mesmo a coerência com as fontes e com o leitor são condições dessa política. A escolha de tipos, cores e imagens também são elementos de uma política para a sensibilização do consumidor.
Pastoralmente, o jornal se apresenta como veículo alternativo e comunitário, colocado em vista de uma evangelização comprometida com a verdade e com o crescimento do reino de Deus. Embora ainda muito vertical, a informação veiculada nesses jornais são “interativas” na medida em que as comunidades se envolvem na sua elaboração, representando, de fato, a vida e os interesses do público. Em face disso, o laboratório permitiu conhecer noções de elaboração de um bom material impresso para as dioceses e paróquias, a partir do domínio de recursos textuais e gráficos apresentados, e também devido ao zelo individualizado da professora em analisar as diversas produções trazidas pelos alunos e sugerir mudanças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constatação de que não estamos apenas numa época de mudanças, mas também numa mudança de época é ponto de partida para a compreensão preliminar de que estamos envolvidos por uma cultura essencialmente midiática, fruto de uma pós-modernidade subjetivada e consequência inevitável da crise na qual a modernidade se viu.
Nesse cenário de identidades diversas a Pascom, se coloca como uma porta aberta pela Igreja e para ela mesma, na tentativa de um diálogo entre o dado religioso e a cultura dominante na qual a própria Igreja se insere e com quem ela dialoga. A atuação pastoral da Igreja, envolvida de todos os lados pela comunicação, está em vista de assumir-se parte dessa cultura, permitindo aos indivíduos diversos tomarem conhecimento da Boa Nova anunciada.
Como visto, a preocupação da Igreja com a sua posição diante das mídias, e muito mais, diante do processo que envolve toda a cultura de mídia, é latente. São muitos anos de árduo esforço, a partir de diversos documentos e encíclicas, para que a Igreja, de modo geral, entrasse nesse diálogo, portando-se de acordo com os valores cristãos que sempre defendeu, objetivando, de algum modo, também catequizar a cultura.
As reflexões das irmãs Joana Puntel e Helena Corazza são respostas de uma Igreja atenta às necessidades do tempo. A ideia que sustentam de que uma Pastoral da Comunicação só pode se estruturar com firmeza sobre o solo da cultura atual se bem conhecido, justifica as diversas discussões e estudos oferecidos pelo SEPAC na perspectiva de amadurecer a visão contemporânea das mídias e das identidades pessoais.
As constantes transformações digitais, a imensidão do ciberespaço, à perspectiva das autoestradas virtuais e a virtualização das relações, no plano real, são desafios que a Igreja pode enfrentar usando dos benefícios da Pascom como organismo de integração das diversas pastorais e como elo entre Igreja e sociedade midiatizada, estando sempre mais apta a enfrentá-los, tanto mais dedicada em conhecê-los.
Contudo, o grande perigo é fazer da Pascom alavanca para estrelismos pessoais. É preciso que na humildade do Bom Pastor, se continue colaborando no projeto criador do Pai, assumindo, cada agente da Pastoral, a importante função na formação de um mundo consciente, comprometido com a verdade por princípios éticos, com atitudes de uma prática cristã e pastoral efetiva.
Cláudio Geraldo da Silva
Trabalho apresentado à PUC/SP - SEPAC.
REFERÊNCIA
PUNTEL, Joana T.; CORAZZA, Helena. Pastoral da comunicação: Diálogo entre fé e cultura. São Paulo: Paulinas, 2007. (Coleção Dinamizando a comunicação)
Para tanto, conforme orientação, toma-se como base à primeira parte desse trabalho o livro Pastoral da comunicação: Diálogo entre fé e cultura, de Joana T. Puntel e Helena Corazza, do qual se apresentará uma síntese. A segunda parte procura estabelecer uma relação direta e indireta entre aquilo que o livro apresenta com o conteúdo das diversas aulas ministradas no decorrer do curso, inclusive no que se refere ao laboratório.
Quanto à síntese do livro, dar-se-á a partir da estrutura elaborada pelas próprias autoras, dividida em quatro partes. De início, se abordará elementos presentes no diálogo entre fé e cultura, dentro da pastoral da comunicação, a partir da motivação dos 50 anos da Pascom e de documentos usados pelas autoras. A seguir, será mencionada a progressiva insistência da Igreja em vista de uma formação para a comunicação ao longo de sua trajetória histórica. Depois, pretende-se colocar diversos pontos para a organização da pastoral da comunicação, listando partes de um planejamento. Por último, falar um pouco da espiritualidade da comunicação, a partir da participação humana no projeto criador de Deus.
Já para o segundo momento do trabalho, objetiva-se colocar pontos da exposição dos professores diante do que é trabalhado no livro no intuito de perceber, através de um diálogo de ideias, as relações que a Pascom estabelece com toda a reflexão acadêmica sobre políticas da comunicação.
O que será colocado a título de considerações finais é produto de reflexões acerca do assunto e impressões daquilo que se apresentou. Nelas serão pontuadas observações mais pessoais sobre a forma como a Igreja se insere no campo da cultura de mídia e como os agentes da Pascom podem colaborar com uma pastoral renovadora da Igreja frente à sociedade.
Assim, o trabalho que segue é fruto de observações, anotações, leitura, reflexão, questionamentos e, por último, de aprendizado real, sendo também ele material para tal conquista. Apresenta-se, então, um esboço organizado daquilo que marcou o segundo módulo, seja na sala de aulas, seja em sua extensão nos estudos posteriores.
Capítulo I
PASTORAL DA COMUNICAÇÃO: DIÁLOGO ENTRE FÉ E CULTURA
De modo geral, o livro Pastoral da Comunicação: Diálogo entre fé e cultura apresenta a crescente preocupação da Igreja com a questão da comunicação dentro de sua perspectiva pastoral, a partir de seus diversos documentos e iniciativas.
Usando de uma linguagem simples, as autoras traçam um caminho para a compreensão, planejamento, implantação e continuidade da Pascom. A longa e profunda experiência que trazem, somadas ao dinamismo e entusiasmo que lhe são peculiares, faz com que a obra de Puntel e Corazza manifeste, como expressão de amor, o intenso zelo que têm para com o bom funcionamento da Pastoral da Comunicação na Igreja, desde as dioceses até as comunidades de base.
Na introdução à obra, as autoras relembram a afirmação de João Paulo II quanto à necessidade de se evangelizar a partir dos novos areópagos, que têm sido descuidados. Daí a perspectiva do avanço do anúncio pelas novas mídias e nelas.
No conjunto em que a obra se apresenta, a Pascom pode ser entendida num contexto de Igreja e sociedade, fazendo necessária sua presença para um melhor entrosamento entre as partes e uma pastoral de conjunto, bem organizada e efetiva.
1.1 – Pastoral da Comunicação: diálogo entre fé e cultura
Editado em 2007, o livro comemora os 50 anos da Pascom, surgida com a carta encíclica Miranda Prorsus, escrita pelo papa Pio XII em 1957, momento em que a televisão e o rádio começam a popularizarem-se e nasce a preocupação da Igreja com a educação de seus receptores. Para esses, seriam criados organismos nacionais que não só preservassem e defendessem, mas também dirigissem, coordenassem e prestassem assistência às obras educativas dentro do campo das técnicas difusoras.
Segundo as autoras é importante fazer uma passagem conceitual quanto à compreensão de comunicação por vezes presente, inclusive nos documentos da Igreja. Isso através de uma nova visão que compreenda a “comunicação como um processo que envolva, por sua vez, muitos elementos, aspectos, interatividade, e que, portanto, não pode ser considerada de modo isolado” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 21). Ou seja, é necessária a mudança da mentalidade estática de que a comunicação se resume apenas no uso da técnica, mas, pelo contrário, seu fenômeno e implicações devem ser considerados, numa análise de conjunto da sociedade, aberta às novas tendências culturais e tecnológicas, sem, no entanto, perder a dimensão do pastoreio, tão essencial à Igreja.
Trata-se, segundo as autoras, de promover o diálogo entre fé e cultura, dando seguimento à afirmação de Paulo VI: “a ruptura entre o evangelho e a cultura é, sem dúvida, o drama de nossa época ”. A proposta é, seguindo a pedagogia de Jesus, dar passos graduais no estabelecimento da Pascom. “Daí a importância e o convite para a Igreja reconhecer, refletir e iluminar esse revolucionário lugar teológico, que sempre mais provoca a mudança de paradigmas, linguagens e métodos pastorais na evangelização atual” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 29), que é a cultura midiática, com quem se vai dialogar.
Para estabelecer esse diálogo, a Pascom necessita conhecer com profundidade elementos fundamentais da cultura atual, principalmente a crescente discussão quanto à crise da modernidade em face da pós-modernidade, e, consequentemente em toda a sua complexidade, à crise de identidade dos povos, estendida às comunidades.
A influência que a cultura midiática exerce sobre os indivíduos também aparece como fator de instabilidade para a Pascom, uma vez que volatiliza valores e relativiza padrões. Contudo, a comunicação pode ser considerada como elemento articulador da sociedade pela capacidade de fazer circular ideias, mesmo suscetível às constantes mudanças de cunho tecnológico, que, comparando a invenção da imprensa às autoestradas telemáticas e à realidade virtual, muito a transformou.
Assim, a comunicação na pós-modernidade inaugura um complexo modo de vida, integrando todo o mundo numa vasta rede digital. A Pascom precisa não apenas preparar-se para o uso profissional da técnica, mas de tomar consciência das mudanças exercidas pelas novas tecnologias sobre as pessoas e a sociedade, nas diversas relações. Precisa ser, portanto, uma pastoral midiática. São necessárias competência e prudência, para, no uso dos meios tecnológicos, promover uma justa reflexão sobre seu papel, estabelecendo eixos essenciais que deem coesão de princípios, pautados numa atividade ética e que ajudem as pessoas a encontrarem sentido à fé que assumiram dentro de sua própria cultura.
1.2 – Formação para a comunicação: A progressiva insistência da Igreja
O segundo capítulo da obra percorre o caminho da Igreja quanto à comunicação, relacionando as diversas concepções empreendidas ao longo da história. Coloca também a preocupação com a boa formação para seu exercício, principalmente nos tempos atuais de cultura midiática.
Embora, como já citado, a Pascom tenha surgido em 1957, com a carta encíclica Miranda Prorsus, já em 1936, com a encíclica Vigilanti Cura , a igreja manifestava preocupação com o receptor. Com o decreto Inter Mirifica, de 1963, a Igreja assume posições mais claras quanto à comunicação, reforçando a necessidade de se cuidar dos receptores, mas também de preparar-se para atuar no mundo da comunicação. Já a Communio et Progresso , de 1971, reforça a boa formação da consciência quanto à qualidade da informação recebida e, principalmente, quanto à preparação eficiente para usar das possibilidades de expressão nos meios, que devem agora ser problematizados nas disciplinas teológicas, especialmente na teologia moral, pastoral e catequética. Communio et Progresso manifesta ainda preocupação com a formação de sacerdotes e religiosos para a incidência dos meios na sociedade, em vista de um apostolado eficaz.
Apesar dos avanços atingidos até então, continua muito presente a preocupação da Igreja apenas com os meios. Só com a encíclica Redemptoris Missio , de 1990, é que os meios passam a ser vistos como uma nova cultura, a cultura midiática, e que dela não se pode descuidar, porque é o novo areópago da missão. Diz: “Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o magistério da Igreja, mas é preciso integrar a mensagem nessa nova cultura, criada pelas modernas comunicações” (RM apud PUNTEL; CORAZZA, 2007, p. 63).
Em 1992, o documento Aetatis Novae convida para uma educação e aprimoramento dos engajados na Pascom para uma comunicação consciente. Preocupa-se ainda com a formação espiritual e com a assistência pastoral para aqueles que trabalham nos diversos canais de mídia não católicos. A partir de então começa a haver um novo enfoque na discussão da Igreja sobre comunicação, considerando o pleno desenvolvimento da era digital. Surge, no ano 2000, o documento Ética nas comunicações sociais e em 2002 os documentos Igreja e Internet e Ética na Internet .
As oportunidades e os desafios do ciberespaço estão diante da Igreja e da Pascom, como uma das questões a serem afrontadas nesta nova era da comunicação. Muitos sites da Web já são de conteúdo cristão e muitos, não cristãos, abortam temas religiosos. Informações multiplicam-se velozmente, às vezes sem controle. A afirmação é de que não basta aos cristãos serem informados, mas também informadores com consciência cristã.
É a preocupação dos dois últimos documentos citados. Eles querem fazer da internet um ponto de força para a evangelização, usando de sua abrangência para envolver sempre mais pessoas e valores relacionados na rede.
A insistência da Igreja em razão da formação justifica-se nas palavras de João Paulo II, ao afirmar que as novas linguagens introduzidas pelos meios de comunicação influenciam nas relações humanas, necessitando, portanto, de uma formação adequada para evitar que os meios, que deveriam estar a serviço das pessoas, as instrumentalize.
1.3 – Organização da Pastoral da Comunicação
A partir da recomendação de Aetatis Novae para que cada conferência episcopal e cada diocese elaborem um plano pastoral completo de comunicação, ou seja, que se dê um “novo enfoque para os planos pastorais para que a ótica da comunicação perpasse toda a ação evangelizadora da Igreja” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 81-82), é que a Igreja abraçou de fato a Pascom.
A pastoral da comunicação assume um lugar integrador na Igreja, englobando todos os planos pastorais, a fim de que os membros da comunidade se assumam na cultura midiática, envolvendo toda a vida e ação da Igreja. Para tanto, é necessária na programação do processo de gestão contemplar a formação das lideranças, estudar documentos oficiais, tornar conhecido o significado da nova cultura da comunicação, assim como seu impacto e influência na sociedade e na percepção da fé. Deve fazer convergir diversas linhas da comunicação para a pastoral, estimular a colaboração entre as pastorais, ajudar aos catequistas revisar e atualizar métodos de ensino, além de formar comunicadores inseridos nesse plano pastoral. Pretende ainda formar continuamente ministros ordenados, assim como famílias, jovens e crianças, promover o acesso a publicações católicas e também marcar presença nos meios de comunicação locais.
Nas paróquias e dioceses o planejamento deve envolver todas as coordenações e pastorais, sendo desenvolvido por uma equipe diocesana de comunicação, com representação de cada área pastoral, em sintonia com toda a coordenação pastoral, assim também deve acontecer nas paróquias. As equipes diocesanas e paroquiais devem trabalhar em consonância, em cumprimento de um plano de articulação.
O planejamento integrado deve envolver diocese e paróquias, paróquias e comunidades, todas as pastorais e as pessoas, através do pensamento comum, estabelecendo vínculos pessoais e pastorais.
A Pascom é uma pastoral específica na Igreja e segue um organograma, partindo das Organizações Católicas (UCIP e SIGNIS) e estendendo-se ao Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, em Roma, para o DECOS (Departamento de Comunicação Social), na América Latina, para a CNBB, para os regionais, dioceses e paróquias.
Para o funcionamento da Pascom é necessário que as pessoas envolvidas tenham alguma formação na área, compreendam o campo da cultura da comunicação e amem a missão, buscando conhecer melhor a área Igreja e comunicação. Assumirem-se gestores do processo sem estrelismo, através do espírito de Igreja e comunidade. A equipe deve formar a consciência da comunidade sobre ser comunicação e ajudar a dinamizar a vida de comunicação da comunidade.
A Pascom abrange todas as pessoas e pastorais. Externamente, divulga as ações para a sociedade através dos diversos meios e relações pessoais e culturais. Internamente, interage as pastorais, promovendo o diálogo e a informação entre elas e ajuda na acolhida, catequese, liturgia, sempre num processo relacional em vista do desenvolvimento humano.
Em Aetatis Novae a Igreja estabelece algumas linhas orientadoras para o planejamento da Pascom de modo que integre estrutural e pastoralmente todos os setores da Igreja. Para esse planejamento deve-se partir de uma análise da realidade, depois identificar as prioridades, definir os objetivos e metas e estabelecer temáticas. Deve ainda deixar alternativas pensadas, para, após a avaliação, se preciso, usá-las.
1.4 – Espiritualidade da Comunicação
Sendo uma Pastoral, a Pascom deve estar alicerçada primeiramente na espiritualidade, “pois ela é seiva que dá vida aos ramos” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 111). É a dinâmica e vivacidade da Palavra de Deus que torna efetiva a Pascom. Durante toda a história da salvação, Deus se comunicou com o seu povo, a Pastoral da Comunicação quer colaborar nesse processo, ajudando Deus a continuar comunicando salvação ao seu povo. É relação, é entrosamento, envolvimento geral.
Pela comunicação o ser humano une-se ao ato criador de Deus, tornando-se sujeito do processo. O homem continua a criação quando descobre novas tecnologias no campo da comunicação e colabora com o progresso da humanidade. Quando se reconhece partícipe da criação, o homem assume sua importância no desenvolvimento histórico, social e religioso da obra de Deus. Quando, ao contrário, se fecha em seu mundo isolado, nega aos seus a oportunidade de crescerem juntos e deixa de sentir o amor que motiva a vida humana em Deus.
A figura de Jesus, como o comunicador do Pai, manifesta a perfeita relação entre Deus e o homem, a ponto de Ele mesmo se fazer humano, pra melhor se revelar. A afirmação de Jesus como Caminho, Verdade e Vida “é uma proposta de espiritualidade que envolve a pessoa no seu todo” (PUNTEL, CORAZZA, 2007, p. 116). É preciso estar com ele sempre.
Como proposta para a formação de uma sólida espiritualidade do agente da Pascom, as autoras sugerem ainda na obra uma série de belas orações para rezar a comunicação. Entre elas estão presentes textos mais clássicos, como Jesus, Perfeito comunicador e Oração pelos comunicadores, de Irmã Joana Puntel, que reafirmam a vinda de Jesus como Caminho, verdade e Vida e pede por todos os engajados na comunicação; a Oração do internauta, de Adriana Zuchetto, na qual se pede que todos os internautas sintam a felicidade de encontrar Jesus, andarilho nas autopistas do ciberespaço; os belos O tempo e o momento e Hipóteses e teorias, de Edna Pires; além de outros, inclusive de bem-aventurado Tiago Alberione.
Capítulo II
PASTORAL DA COMUNICAÇÃO: RELAÇÃO LIVRO – SALA DE AULA
As políticas da comunicação, assunto abordado nesse módulo, permeiam toda a estrutura da Pascom. Sendo ela a posição participante da Igreja no processo de comunicação na cultura midiática, está também inserida em toda a discussão ética, política, sociológica e tecnológica, bastante refletida no último módulo.
Falando da “Fundamentação ética nas políticas de comunicação”, o professor Francisco Serralvo lembrou a origem dos termos ética e moral, buscando uma reflexão acerca dos fundamentos que delimitam esse campo, dentro da perspectiva profissional de comunicação, no contexto da economia de mercado. A questão ética tem se apresentado como um desafio, uma vez que, segundo o professor, sua função é estabelecer uma relação mais justa dentro das estruturas sociais.
Assim coloca-se a preocupação da Igreja, que Puntel e Corazza (2007) lembram ao mencionarem os documentos Ética na publicidade (1997), Ética nas comunicações sociais (2000) e Ética na internet (2002). Na visão das autoras, esses os princípios éticos devem pautar-se na solidariedade, subsidiaridade, justiça, equidade e verdade, não se prendendo apenas ao conteúdo, mas também ao sistema que o envolve.
Professor Mauro Wilton abordou com seriedade a constatação, da qual Puntel e Corazza (2007) também falam, de que houve um rompimento de época, fruto da crise da modernidade, que resultou na pós-modernidade. Nela, palco da globalização, o global e o local, ou na expressão própria de Mauro, “glocal”, interagem-se, naquilo que professor Mauro chamou de blocos e regiões, sendo novas distribuições do poder midiático, uma vez que a comunicação é essencialmente relacional e, como ele mesmo diz, citando Foucault, toda relação é uma relação de poder, que é mediado pela Igreja, pelo Estado e pela Economia.
Mauro Wilton, noutra aula, falou ainda das políticas públicas, dos confrontos entre o bem comum, os interesses privados e a opinião pública. A luta pela real implantação da Pascom se dá no sentido de garantir que todo o processo esteja em favor de todos, mesmo que agindo a partir de “coletivo virtualizado”, como diz Mauro, entendendo que o poder não está nos meios, mas na vida que eles produzem.
A professora Sílvia Borelli abordou outro tema muito presente também na obra de Puntel e Corazza (2007) que são os desafios e políticas de comunicação na perspectiva das novas identidades e do multiculturalismo, principalmente quanto às novas identidades. Sobre isso, citando Stuart Hall, as autoras lembram a fragmentação do indivíduo, que é parte do processo de mudança. Outra relação muito clara entre aula e livro é a afirmação de professora Sílvia de que as transformações acontecem muito rapidamente e que o maior processo de comunicação está no campo da cultura e das comunicações. O que na expressão de Puntel e Corazza (2007) é buscar conhecer e admitir a mudança tecnológica comunicativa, que acontece hoje como fenômeno global, conjugada com tantos aspectos da vida social.
Outro conteúdo ministrado por Sílvia Borelli foi com relação às novas tecnologias e novas mídias, sob o eixo da inclusão e da exclusão. Segundo a professora, o novo vem caracterizado pelo diálogo com suas bases, se requalificando, cabendo a qualquer momento do que é novo, pensar em quais aspectos inclui e exclui. Como pastoral da integração, a Pascom refaz constantemente essa avaliação frente ao novo, mantendo-se aberta às novas tecnologias em face de atuar com consciência dentro das novas mídias, de modo que todos sejam incluídos no processo.
A professora Rosemary Segurado tratou das políticas de concessão das diversas mídias, percorrendo um percurso histórico dessas concessões no Brasil. Usando dos recursos de diversas mídias e em diálogo com a cultura midiática, a Pascom precisa também, segundo as autoras, organizar-se de tal modo que consiga enquadrar-se nos requisitos legais em vista de um testemunho ético e coerente na evangelização.
O eixo central do livro foi trabalhado em sala de aula com mais precisão por uma de suas autoras, a irmã Joana Puntel , com o tema Igreja: sua identificação e as políticas de comunicação. A professora, para quem as políticas de comunicação são uma decorrência da identidade cristã, partiu de constatações sociológicas no campo da comunicação, entrelaçando-as às constatações da linha eclesial, traçando também uma trajetória histórica, destacando o surgimento da Campanha da Fraternidade em 1664, como importante iniciativa de comunicação e estratégia comunicacional da Igreja. Abordou também temas como a identidade da missão e os desafios de fazê-la hoje.
Ressaltou elementos presentes no livro, como o conhecimento do interlocutor através do estudo da mediação, dentro do diálogo fé e cultura. Sobre a Pascom, enfatizou a necessidade de se somar forças no interior da Igreja em vista de ajudar na sua atualização. Lembrou ainda a importância da Pascom como pastoral da integração, que encampa as demais pastorais.
Cecília Peruzzo , falando de mídias alternativas e comunitárias, lembrou que não são somente fuga do convencional e não se referem apenas aos meios, mas a processos mais amplos. No geral, estão ligadas às expressões populares de cunho crítico, que a própria Igreja muito usa, principalmente nas comunidades de base, sempre em vista da justiça social. Quando Puntel e Corazza (2007) falam da comunicação na Igreja sob o ângulo prático da relação entre comunidade e sociedade, elas listam meios como boletins, jornais e programas de rádio e TV. Salvos alguns casos mais raros, a grande maioria desses órgãos usados na Pascom têm esse caráter alternativo e comunitário, uma vez que são expressões de pequeno alcance e revelam a organização popular das comunidades, ou representam alguma alternativa diante dos grandes veículos oficiais de comunicação.
A nova fronteira do evangelho, que as autoras consideram o ciberespaço, de um modo mais amplo, considerando todas as mídias digitais, foi apresentada com propriedade pela professora Marlyvan Moraes . Segundo ela, são mídias pós-massivas, baseadas na usabilidade, nas quais a produção é descentralizada e em tempo real.
Puntel e Corazza (2007) ao falarem de uma perspectiva de futuro da comunicação, lembram as autoestradas eletrônicas, que colocam todo o planeta numa imensa rede comunicativa, que permite a qualquer um em qualquer lugar entrar em contato com todo o mundo. Falando de sociedade de redes, a professora Rose Melo Rocha enfatizou que as redes determinam o desenvolvimento da sociedade, tanto fisicamente, por meio das redes materiais, como virtualmente, pelas redes simbólicas. A afirmação de Puntel e Corazza (2007, p. 47) de que “não se poderá mais viver senão em rede” associa-se a colocação de Rose quanto à apropriação das redes digitais de caracteres próprios das redes primitivas. Ou seja, o ser que é necessariamente social adapta-se e permite-se criar e envolver-se em redes que se atualizam constantemente.
Também no laboratório os dois eixos – política e pastoral da comunicação – foram bem notados. Com auxílio da professora Margarete Pedro e do professor José Reis diversos dos pontos discutidos na parte expositiva do curso foram retomados e rediscutidos, na perspectiva da ação prática.
Todo o processo de produção de um jornal está envolvido por uma política, diga-se da comunicação, que estabelece condições e limites. Daí a tomada de posições éticas diante de diversos assuntos; o cuidado com a pessoa humana envolvida, a preservação de sua dignidade; a imparcialidade e a capacidade de escuta dos diversos lados tratados; até mesmo a coerência com as fontes e com o leitor são condições dessa política. A escolha de tipos, cores e imagens também são elementos de uma política para a sensibilização do consumidor.
Pastoralmente, o jornal se apresenta como veículo alternativo e comunitário, colocado em vista de uma evangelização comprometida com a verdade e com o crescimento do reino de Deus. Embora ainda muito vertical, a informação veiculada nesses jornais são “interativas” na medida em que as comunidades se envolvem na sua elaboração, representando, de fato, a vida e os interesses do público. Em face disso, o laboratório permitiu conhecer noções de elaboração de um bom material impresso para as dioceses e paróquias, a partir do domínio de recursos textuais e gráficos apresentados, e também devido ao zelo individualizado da professora em analisar as diversas produções trazidas pelos alunos e sugerir mudanças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constatação de que não estamos apenas numa época de mudanças, mas também numa mudança de época é ponto de partida para a compreensão preliminar de que estamos envolvidos por uma cultura essencialmente midiática, fruto de uma pós-modernidade subjetivada e consequência inevitável da crise na qual a modernidade se viu.
Nesse cenário de identidades diversas a Pascom, se coloca como uma porta aberta pela Igreja e para ela mesma, na tentativa de um diálogo entre o dado religioso e a cultura dominante na qual a própria Igreja se insere e com quem ela dialoga. A atuação pastoral da Igreja, envolvida de todos os lados pela comunicação, está em vista de assumir-se parte dessa cultura, permitindo aos indivíduos diversos tomarem conhecimento da Boa Nova anunciada.
Como visto, a preocupação da Igreja com a sua posição diante das mídias, e muito mais, diante do processo que envolve toda a cultura de mídia, é latente. São muitos anos de árduo esforço, a partir de diversos documentos e encíclicas, para que a Igreja, de modo geral, entrasse nesse diálogo, portando-se de acordo com os valores cristãos que sempre defendeu, objetivando, de algum modo, também catequizar a cultura.
As reflexões das irmãs Joana Puntel e Helena Corazza são respostas de uma Igreja atenta às necessidades do tempo. A ideia que sustentam de que uma Pastoral da Comunicação só pode se estruturar com firmeza sobre o solo da cultura atual se bem conhecido, justifica as diversas discussões e estudos oferecidos pelo SEPAC na perspectiva de amadurecer a visão contemporânea das mídias e das identidades pessoais.
As constantes transformações digitais, a imensidão do ciberespaço, à perspectiva das autoestradas virtuais e a virtualização das relações, no plano real, são desafios que a Igreja pode enfrentar usando dos benefícios da Pascom como organismo de integração das diversas pastorais e como elo entre Igreja e sociedade midiatizada, estando sempre mais apta a enfrentá-los, tanto mais dedicada em conhecê-los.
Contudo, o grande perigo é fazer da Pascom alavanca para estrelismos pessoais. É preciso que na humildade do Bom Pastor, se continue colaborando no projeto criador do Pai, assumindo, cada agente da Pastoral, a importante função na formação de um mundo consciente, comprometido com a verdade por princípios éticos, com atitudes de uma prática cristã e pastoral efetiva.
Cláudio Geraldo da Silva
Trabalho apresentado à PUC/SP - SEPAC.
REFERÊNCIA
PUNTEL, Joana T.; CORAZZA, Helena. Pastoral da comunicação: Diálogo entre fé e cultura. São Paulo: Paulinas, 2007. (Coleção Dinamizando a comunicação)