1 - RELIGIÃO
Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, o vocábulo religião significa crença na existência de uma força ou de forças sobrenaturais e também conjunto de dogmas e práticas que geralmente envolvem tal crença. Um pouco mais profundo, é Nicola Abbagnano que em seu dicionário de filosofia descreve religião como essa crença na garantia sobrenatural de salvação e técnicas (atos de culto: Oração, sacrifício, ritual, cerimônia, serviço divino e social e etc.) destinadas a obter e conservar tal garantia.
Urbano Zilles, em síntese, diz que a religião realiza-se na existência humana, verificando-se nela, tanto o apelo de Deus, quanto a resposta do homem, tudo isso dentro de uma atitude relacional. Ligado a isso, está o conceito de religião escrito por Pedro Santidrián no Dicionário Básico das Religiões. Esse conceito busca a palavra religião em sua dupla origem latina: Religare e Religere, estabelecendo de certa forma este caráter de relação entre a humanidade e a entidade divina, que são sujeitos desse processo e, seu objeto, que é a aproximação entre as partes.
Falando dos problemas filosóficos, mais especificamente do religioso, Baptista Mondin exalta que a religião dá-se apenas entre os seres humanos, que denomina homus religiosus, por sua carência nesse sentido. Para ele, religião é o conjunto de conhecimentos, ações e estruturas com as quais o homem expressa reconhecimento, dependência e veneração em relação ao sagrado, isso de modo fundamental quando o homem assume perante o sagrado e o divino uma atitude subjetiva, ou seja, quando é emocionalmente atingido e atraído pelo objeto, entrando em contato pessoal com ele.
Mondim apresenta ainda um paralelo entre duas vertentes filosóficas, uma primeira, ilustrada por Marx (religião é o ópio do povo) e por Nietzsche (Deus está morto – invenção dos fracos) e uma segunda, em que encontramos Kierkegaard (religião pertence à esfera de existência humana) e Blondel (Deus é aquilo que não podemos ser nem fazer com nossas próprias forças). De fato, esses últimos encontram aplauso ainda em nossos dias, haja vista que o ato religioso dirige-se a uma realidade efetivamente existente.
Assim, a religião é, em primeiro lugar, fruto da abertura natural do ser humano à transcendência. Mesmo que para os racionalistas a religião pertença à área do mito, do infantilismo, da superstição e do atraso, a racionalidade e o materialismo não conseguiram exilar o sagrado.
2 - O ILUMINISMO
Trata-se de um movimento que surgiu na Europa, principalmente Inglaterra e França, no século XVIII. A partir dele o homem passou a buscar respostas fundamentadas na razão e na liberdade de expressão e pensamento.
Esse movimento portava uma ideologia revolucionária capaz de transformar a mentalidade humana. Baseava-se no antropocentrismo, que contrariava a ideia corrente que centralizava Deus. Tal antropocentrismo equipara-se a um ato de fé apaixonado pela natureza humana, considerada com seus caracteres universais comuns a todos os homens e não na natureza individual de cada um.
Por isso, tentaram resolver todas as questões relativas ao homem, partindo do pressuposto que eram todos iguais e tinham direito à liberdade de expressão e à prática de qualquer que fosse sua religião. Numa síntese de seu pensamento, pode-se dizer que Condorcet atribuía ao iluminismo o papel de conduzir os homens à liberdade por um caminho seguro, pois caminhariam à luz do conhecimento, o que outrora era desconhecido, já que viviam no erro e na ignorância, fatores que constituíam a causa dos males do gênero humano.
Muitos foram os acontecimentos políticos e culturais que contribuíram para o aparecimento do iluminismo. Parta-se do que foi o Renascimento, que lutou contra toda forma de ameaça à autonomia do homem. Depois, a Reforma que estendeu o campo religioso e questionou algumas verdades absolutas. Por fim, a revolução inglesa que estendeu a luta contra a autoridade a tamanha dimensão que a fez perpassar ao campo da política. Dá-se também grande valor ao progresso estimável conseguido pela ciência no século XVII, o que caracterizou fortemente a passagem da cultura de apenas literária à científica.
No ideário iluminista estava presentes o combate ao Absolutismo, ao Mercantilismo e ao poder da Igreja. Trazia também basicamente cinco características fundamentais, como se apresenta a seguir:
A veneração pela ciência: Inspirada já nas obras de Galileu e Newton e na aplicação da ciência nas pesquisas metafísicas dos filósofos (sec. XVIII). No sec. XVII há um maior interesse pela ciência em todos os setores da sociedade. Fazem-se viagens e empreendimentos científicos custeados pelo governo e nascem diversas academias, disciplinas e descobertas memoráveis. Surge também um movimento de educação popular, trazendo a público o saber que até então era restrito a um seleto grupo.
O empirismo: Seguindo os filósofos ingleses os iluministas tomam a experiência como critério de verdade.
O racionalismo: Confiança cega na razão (medida de todas as coisas) cujo poder é ilimitado atuando em todos os campos.
O antitradicionalismo: Oposição a toda tradição, principalmente a religiosa, política e legal. Os principais alvos das críticas eram a Igreja e a monarquia, usando da crítica histórica que tem aí o seu início. Surge a análise das origens naturais da sociedade, da religião e do Estado o que contrariou a aureola divina que os protegia.
Otimismo utopístico: Julga a razão capaz de eliminar qualquer infelicidade, tanto na área jurídica, pedagógica e econômica como na da medicina, de onde esperam vencer todas as doenças.
O ideal iluminista tomou grande força na linha filosófica, de onde Emmanuel Kant tira a máxima que dá como lema ao movimento: Tem a coragem de servir-te de tua própria inteligência. Para ele (Kant), O iluminismo é a saída da minoridade, ou seja, o alcance de um amadurecimento tal, em que, as ideias do sujeito sejam bastantes para lhe dar respostas às suas questões. Libertar-se da servidão espiritual, tornar o homem sem medo, senhor do mundo, acabando com a magia que cede seu lugar à ciência.
Entre os filósofos iluministas destacam-se:
Voltaire (1694 – 1778): Combateu a ignorância, a superstição e o fanatismo religioso na defesa da razão, da tolerância e da monarquia constitucional.
Montesquieu (1689 – 1755): Escreveu O espírito das leis, que critica a monarquia absoluta e defende a organização do estado em Executivo, Legislativo e Judiciário, para que, sendo independentes os poderes, se garantisse o equilíbrio do estado e a liberdade dos indivíduos. Criticou também os costumes morais e religiosos em Cartas persas.
Diderot (1713 – 1784) e d’Alembert (1717 – 1783): Divulgaram em toda a Europa a ideia iluminista através de sua publicação Enciclopédia.
Rousseau (1712 – 1778): Analisou as razões das desigualdades sociais. Em O contrato social, argumentou a favor de uma sociedade democrática baseada na igualdade dos indivíduos. Defendia a soberania popular. Sua obra influenciou os revolucionários franceses.
Também a economia viu-se iluminada nesse período, principalmente a partir do fortalecimento da produção fabril na Inglaterra e depois em outros países da Europa. Teorias que pregavam a liberdade econômica e a formação de um mercado livre ganharam forças. Para os teóricos iluministas, o mercantilismo em vigor até então, em que o estado intervinha na economia, limitava o desenvolvimento das atividades econômicas.
Dentro de tudo isso, supõe-se a grande perseguição que a religião deve ter sofrido nesta busca incansável pelo saber dos iluministas. É certo a repercussão do Iluminismo na religião, principalmente sobre a religião cristã. Esta vinculava muito arraigadamente a ideia de homem e de mundo a uma época já ultrapassada. De tal maneira, a religião passou a ser examinada como um forte aparelho ideológico de ordem ultrapassada e reacionária.
A emancipação da razão crítica, em sua busca pelas verdades da religião, proporcionou a ruptura entre o mundo judaico-cristão e o mundo profano. Perderam também suas evidências as concepções adquiridas durante a Idade Média e a Antiguidade. Tal busca pela verdade, já nos séculos XVII e XVIII inicia um processo de emancipação quando alguns teólogos aplicam o método histórico-crítico das ciências profanas à interpretação da bíblia, cavando profundo abismo entre as concepções antigas e míticas e as próprias da época. Desta mesma forma, as formulações cristãs, baseadas na metafísica, sofreram grandes influências diante da reinterpretação metafísica das coisas feita nesse período.
O fenômeno religioso dentro do iluminismo apresentou-se de três formas unilaterais. Numa, podia-se ver a negação total da religião, declarada como falsa. Nesse cenário atuam basicamente Feuerbach, Nietzsche, Freud e alguns marxistas. Eles tratavam a vida, numa concepção natural sem alienação e na busca da harmonia total a partir da razão.
A segunda forma tratava a religião como objeto fundamental da filosofia e reconheceu-se a fé, fundamento da religião, como ato íntegro e totalmente humano. Nessa atitude iluminista em relação à religião faz-se grande abertura ao ser, assim a razão, tão valorizada, conduz à religião como expressão de uma dimensão transcendente da existência humana, é o que afirma M. Blondel quando diz que a expectativa de uma religião é natural.
O terceiro modo experimentava e analisava as diferentes concepções e instituições religiosas. Max Weber, Durkheim, Levy Bruhl e Levy Strauss estudavam as religiões sob pesquisas empíricas. Nelas, encontram resultados comuns em fenômenos diferentes, o que é notável no pensamento de Durkheim quando este diz que não deve haver nenhuma religião falsa, pois todas elas, de formas diferentes, respondem a dadas condições da existência humana. Aqui se deu espaço a tendência de secularização, o que contribuiu fortemente para a relativização da religião em nosso tempo.
O importante é notar que de certo modo foram no Iluminismo que se abriram as portas para a discussão filosófica nas mais diversas áreas do conhecimento, assim como, causou uma brusca mudança na mentalidade não só intelectual, como também social, iniciada naquela ocasião e com repercussões longevas. No âmbito religioso, apesar da quebra de muitos paradigmas até então absolutos, trouxe inúmeros benefícios, quanto mais no que criou uma vasta gama de informações enriquecedoras ao seu tempo e que nos ajudam ainda hoje.
Cláudio Geraldo da Silva
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ALVES, Rubem. O que é religião? 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
DIVALTE. História. São Paulo: Ática, 2003.
HEERDT, Mauri Luiz; BESEN, José Artulino; COPPI, Paulo de. O Universo Religioso: As grandes religiões e tendências religiosas atuais. São Paulo: Mundo e Missão, 2005.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro Sales. Minidiocionário Houaiss de Lingua Portuguesa. São Paulo: Moderna, 2008.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: Os filósofos do Ocidente. Vol. II. Trad. João Bosco de lavor Medeiros. 3.ed. São Paulo: Paulus, 1982.
MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia. Trad. J. Renard. 16. ed. São Paulo: Paulus, 2006.
QUEIROZ. Tânia Dias. Novo método de ensino: Fundamental e médio. São Paulo: Didática Paulista: 2000.
REALE, Giovanni; ANTISERE, Dario. História da Filosofia: 8. ed. Do Humanismo a Kant. Vol. II. São Paulo: Paulinas, 2003.
Religiões. Vol. I. São Paulo: Mundo e Missão, 1998.
SANTIDRIÁN, Pedro R. Dicionário Básico das Religiões. Aparecida: Ed. Santuário, 1996.
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. 5. Ed. São Paulo: Paulus, 2005.
Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, o vocábulo religião significa crença na existência de uma força ou de forças sobrenaturais e também conjunto de dogmas e práticas que geralmente envolvem tal crença. Um pouco mais profundo, é Nicola Abbagnano que em seu dicionário de filosofia descreve religião como essa crença na garantia sobrenatural de salvação e técnicas (atos de culto: Oração, sacrifício, ritual, cerimônia, serviço divino e social e etc.) destinadas a obter e conservar tal garantia.
Urbano Zilles, em síntese, diz que a religião realiza-se na existência humana, verificando-se nela, tanto o apelo de Deus, quanto a resposta do homem, tudo isso dentro de uma atitude relacional. Ligado a isso, está o conceito de religião escrito por Pedro Santidrián no Dicionário Básico das Religiões. Esse conceito busca a palavra religião em sua dupla origem latina: Religare e Religere, estabelecendo de certa forma este caráter de relação entre a humanidade e a entidade divina, que são sujeitos desse processo e, seu objeto, que é a aproximação entre as partes.
Falando dos problemas filosóficos, mais especificamente do religioso, Baptista Mondin exalta que a religião dá-se apenas entre os seres humanos, que denomina homus religiosus, por sua carência nesse sentido. Para ele, religião é o conjunto de conhecimentos, ações e estruturas com as quais o homem expressa reconhecimento, dependência e veneração em relação ao sagrado, isso de modo fundamental quando o homem assume perante o sagrado e o divino uma atitude subjetiva, ou seja, quando é emocionalmente atingido e atraído pelo objeto, entrando em contato pessoal com ele.
Mondim apresenta ainda um paralelo entre duas vertentes filosóficas, uma primeira, ilustrada por Marx (religião é o ópio do povo) e por Nietzsche (Deus está morto – invenção dos fracos) e uma segunda, em que encontramos Kierkegaard (religião pertence à esfera de existência humana) e Blondel (Deus é aquilo que não podemos ser nem fazer com nossas próprias forças). De fato, esses últimos encontram aplauso ainda em nossos dias, haja vista que o ato religioso dirige-se a uma realidade efetivamente existente.
Assim, a religião é, em primeiro lugar, fruto da abertura natural do ser humano à transcendência. Mesmo que para os racionalistas a religião pertença à área do mito, do infantilismo, da superstição e do atraso, a racionalidade e o materialismo não conseguiram exilar o sagrado.
2 - O ILUMINISMO
Trata-se de um movimento que surgiu na Europa, principalmente Inglaterra e França, no século XVIII. A partir dele o homem passou a buscar respostas fundamentadas na razão e na liberdade de expressão e pensamento.
Esse movimento portava uma ideologia revolucionária capaz de transformar a mentalidade humana. Baseava-se no antropocentrismo, que contrariava a ideia corrente que centralizava Deus. Tal antropocentrismo equipara-se a um ato de fé apaixonado pela natureza humana, considerada com seus caracteres universais comuns a todos os homens e não na natureza individual de cada um.
Por isso, tentaram resolver todas as questões relativas ao homem, partindo do pressuposto que eram todos iguais e tinham direito à liberdade de expressão e à prática de qualquer que fosse sua religião. Numa síntese de seu pensamento, pode-se dizer que Condorcet atribuía ao iluminismo o papel de conduzir os homens à liberdade por um caminho seguro, pois caminhariam à luz do conhecimento, o que outrora era desconhecido, já que viviam no erro e na ignorância, fatores que constituíam a causa dos males do gênero humano.
Muitos foram os acontecimentos políticos e culturais que contribuíram para o aparecimento do iluminismo. Parta-se do que foi o Renascimento, que lutou contra toda forma de ameaça à autonomia do homem. Depois, a Reforma que estendeu o campo religioso e questionou algumas verdades absolutas. Por fim, a revolução inglesa que estendeu a luta contra a autoridade a tamanha dimensão que a fez perpassar ao campo da política. Dá-se também grande valor ao progresso estimável conseguido pela ciência no século XVII, o que caracterizou fortemente a passagem da cultura de apenas literária à científica.
No ideário iluminista estava presentes o combate ao Absolutismo, ao Mercantilismo e ao poder da Igreja. Trazia também basicamente cinco características fundamentais, como se apresenta a seguir:
A veneração pela ciência: Inspirada já nas obras de Galileu e Newton e na aplicação da ciência nas pesquisas metafísicas dos filósofos (sec. XVIII). No sec. XVII há um maior interesse pela ciência em todos os setores da sociedade. Fazem-se viagens e empreendimentos científicos custeados pelo governo e nascem diversas academias, disciplinas e descobertas memoráveis. Surge também um movimento de educação popular, trazendo a público o saber que até então era restrito a um seleto grupo.
O empirismo: Seguindo os filósofos ingleses os iluministas tomam a experiência como critério de verdade.
O racionalismo: Confiança cega na razão (medida de todas as coisas) cujo poder é ilimitado atuando em todos os campos.
O antitradicionalismo: Oposição a toda tradição, principalmente a religiosa, política e legal. Os principais alvos das críticas eram a Igreja e a monarquia, usando da crítica histórica que tem aí o seu início. Surge a análise das origens naturais da sociedade, da religião e do Estado o que contrariou a aureola divina que os protegia.
Otimismo utopístico: Julga a razão capaz de eliminar qualquer infelicidade, tanto na área jurídica, pedagógica e econômica como na da medicina, de onde esperam vencer todas as doenças.
O ideal iluminista tomou grande força na linha filosófica, de onde Emmanuel Kant tira a máxima que dá como lema ao movimento: Tem a coragem de servir-te de tua própria inteligência. Para ele (Kant), O iluminismo é a saída da minoridade, ou seja, o alcance de um amadurecimento tal, em que, as ideias do sujeito sejam bastantes para lhe dar respostas às suas questões. Libertar-se da servidão espiritual, tornar o homem sem medo, senhor do mundo, acabando com a magia que cede seu lugar à ciência.
Entre os filósofos iluministas destacam-se:
Voltaire (1694 – 1778): Combateu a ignorância, a superstição e o fanatismo religioso na defesa da razão, da tolerância e da monarquia constitucional.
Montesquieu (1689 – 1755): Escreveu O espírito das leis, que critica a monarquia absoluta e defende a organização do estado em Executivo, Legislativo e Judiciário, para que, sendo independentes os poderes, se garantisse o equilíbrio do estado e a liberdade dos indivíduos. Criticou também os costumes morais e religiosos em Cartas persas.
Diderot (1713 – 1784) e d’Alembert (1717 – 1783): Divulgaram em toda a Europa a ideia iluminista através de sua publicação Enciclopédia.
Rousseau (1712 – 1778): Analisou as razões das desigualdades sociais. Em O contrato social, argumentou a favor de uma sociedade democrática baseada na igualdade dos indivíduos. Defendia a soberania popular. Sua obra influenciou os revolucionários franceses.
Também a economia viu-se iluminada nesse período, principalmente a partir do fortalecimento da produção fabril na Inglaterra e depois em outros países da Europa. Teorias que pregavam a liberdade econômica e a formação de um mercado livre ganharam forças. Para os teóricos iluministas, o mercantilismo em vigor até então, em que o estado intervinha na economia, limitava o desenvolvimento das atividades econômicas.
Dentro de tudo isso, supõe-se a grande perseguição que a religião deve ter sofrido nesta busca incansável pelo saber dos iluministas. É certo a repercussão do Iluminismo na religião, principalmente sobre a religião cristã. Esta vinculava muito arraigadamente a ideia de homem e de mundo a uma época já ultrapassada. De tal maneira, a religião passou a ser examinada como um forte aparelho ideológico de ordem ultrapassada e reacionária.
A emancipação da razão crítica, em sua busca pelas verdades da religião, proporcionou a ruptura entre o mundo judaico-cristão e o mundo profano. Perderam também suas evidências as concepções adquiridas durante a Idade Média e a Antiguidade. Tal busca pela verdade, já nos séculos XVII e XVIII inicia um processo de emancipação quando alguns teólogos aplicam o método histórico-crítico das ciências profanas à interpretação da bíblia, cavando profundo abismo entre as concepções antigas e míticas e as próprias da época. Desta mesma forma, as formulações cristãs, baseadas na metafísica, sofreram grandes influências diante da reinterpretação metafísica das coisas feita nesse período.
O fenômeno religioso dentro do iluminismo apresentou-se de três formas unilaterais. Numa, podia-se ver a negação total da religião, declarada como falsa. Nesse cenário atuam basicamente Feuerbach, Nietzsche, Freud e alguns marxistas. Eles tratavam a vida, numa concepção natural sem alienação e na busca da harmonia total a partir da razão.
A segunda forma tratava a religião como objeto fundamental da filosofia e reconheceu-se a fé, fundamento da religião, como ato íntegro e totalmente humano. Nessa atitude iluminista em relação à religião faz-se grande abertura ao ser, assim a razão, tão valorizada, conduz à religião como expressão de uma dimensão transcendente da existência humana, é o que afirma M. Blondel quando diz que a expectativa de uma religião é natural.
O terceiro modo experimentava e analisava as diferentes concepções e instituições religiosas. Max Weber, Durkheim, Levy Bruhl e Levy Strauss estudavam as religiões sob pesquisas empíricas. Nelas, encontram resultados comuns em fenômenos diferentes, o que é notável no pensamento de Durkheim quando este diz que não deve haver nenhuma religião falsa, pois todas elas, de formas diferentes, respondem a dadas condições da existência humana. Aqui se deu espaço a tendência de secularização, o que contribuiu fortemente para a relativização da religião em nosso tempo.
O importante é notar que de certo modo foram no Iluminismo que se abriram as portas para a discussão filosófica nas mais diversas áreas do conhecimento, assim como, causou uma brusca mudança na mentalidade não só intelectual, como também social, iniciada naquela ocasião e com repercussões longevas. No âmbito religioso, apesar da quebra de muitos paradigmas até então absolutos, trouxe inúmeros benefícios, quanto mais no que criou uma vasta gama de informações enriquecedoras ao seu tempo e que nos ajudam ainda hoje.
Cláudio Geraldo da Silva
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ALVES, Rubem. O que é religião? 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
DIVALTE. História. São Paulo: Ática, 2003.
HEERDT, Mauri Luiz; BESEN, José Artulino; COPPI, Paulo de. O Universo Religioso: As grandes religiões e tendências religiosas atuais. São Paulo: Mundo e Missão, 2005.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro Sales. Minidiocionário Houaiss de Lingua Portuguesa. São Paulo: Moderna, 2008.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: Os filósofos do Ocidente. Vol. II. Trad. João Bosco de lavor Medeiros. 3.ed. São Paulo: Paulus, 1982.
MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia. Trad. J. Renard. 16. ed. São Paulo: Paulus, 2006.
QUEIROZ. Tânia Dias. Novo método de ensino: Fundamental e médio. São Paulo: Didática Paulista: 2000.
REALE, Giovanni; ANTISERE, Dario. História da Filosofia: 8. ed. Do Humanismo a Kant. Vol. II. São Paulo: Paulinas, 2003.
Religiões. Vol. I. São Paulo: Mundo e Missão, 1998.
SANTIDRIÁN, Pedro R. Dicionário Básico das Religiões. Aparecida: Ed. Santuário, 1996.
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. 5. Ed. São Paulo: Paulus, 2005.